Vamos ser estúpidos?
A situação criada pelo ministro da Defesa Nacional ao tornar pública a vontade de exonerar o almirante Calado, Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), para o substituir pelo vice-almirante Gouveia e Melo, no dia em que este cessou funções à frente do destacamento de controlo da vacinação, pode ter resultado de uma precipitação e de um acto insensato ou mesmo estúpido do ministro e até do Primeiro Ministro.
Como sempre, lanço hipóteses para ver se têm alguma verosimilhança de modo a serem explicação de dúvidas que me surgem. O que disse acima é a ponta de mais uma que passo a equacionar.
Gouveia e Melo cumpriu de forma exemplar a missão para a qual foi nomeado. Na hora da despedida, o Governo não sabe como agradecer-lhe. Um louvor era mais um na folha de serviços do almirante, uma condecoração teria de ser tão elevada que, se calhar, ultrapassava a competência dos governantes, nomeadamente do ministro da DN e, atribuir-lhe mais uma medalha de serviços distintos era outra entre tantas que ele já possui. Em face do problema, “sai” uma solução “à político”, uma daquelas que é hábito usarem para premiar quem se “porta bem”: arranjar-lhe um “tacho”!
Mas Gouveia e Melo demonstrou a sua verticalidade castrense e um “tacho” teria de ser bem escolhido, pois ele poderia recusá-lo. «É fácil» ‒ terá dito o ministro da DN ‒ «faz-se dele CEMA e terá as quatro estrelas que merece».
Terão batido palmas os ministros distraídos, terá concordado António Costa, enquanto despachava coisas mais importantes, e a “solução” (talvez soprada pelo CEMGFA) do ministro da Defesa ganhou pernas para se tornar pública. E foi nessa altura que começaram a aperceber-se da merda que haviam parido! É que militares ‒ embora os políticos estejam a tentar a transformação ‒ não são “boys” a quem se dão prémios chorudos à conta do orçamento e, por conseguinte, de todos nós! Os militares regem-se por princípios éticos que a tradição vai conservando (não sei até quando, mas, por enquanto, ainda mantêm).
Que grande “bronca”, porque quem, em última análise e instância, nomeia e destitui os chefes militares é, por proposta do Governo, o Presidente da República. Desta vez, Marcelo Rebelo de Sousa, com o sorrisinho sacaninha que lhe conhecemos, e aquele movimento de cabeça que pontua as frases que deseja fiquem bem esclarecidas, deu um “chuto nos tomates” do ministro e uma forte palmada nas costas do Costa! Pura e simplesmente desautorizou, em público, o ministro e recordou ao Governo que ele, Presidente da República, não é um “verbo de encher”. E não venham os habituais comentadores televisivos dizer que Marcelo está a “deitar as garras de fora” depois das eleições autárquicas! Não está, porque, gaita, o ministro, o Governo e António Costa serviram-lhe em bandeja de ouro o motivo mais do que excelente para ele os “pôr na ordem”.
Não sei o que se passou em Belém para que a Presidência da República considere esclarecidos os equívocos gerados, mas, quase apostava que quem saiu do palácio com o rabo entre as pernas foi António Costa e o ministro da Defesa a chamar pelo irmão de Abel, que, recordo, dava pelo nome de Caim (ou seja caim, caim, caim…).
Tem pernas para andar esta hipótese que vos coloco?