Um Rio a precisar de ajudas
Ontem vi, por mero acaso, o debate entre Rui Rio e André Ventura e sobre isso tenho algumas considerações a fazer, que poderão interessar ou não aos meus leitores. Deixo-as à vossa consideração. Aí vão elas.
Numa tentativa de começar bem e dentro dos parâmetros que iriam condicionar o seu adversário, o líder do PSD invocou o fundamento de ilegitimidade do partido que dá pelo nome de Chega: estar contra o actual regime. Se Rui Rio não tivesse saído deste estreito e limitado campo teria ganho o confronto de ideias, pois, cada vez que Ventura abrisse a boca, bastar-lhe-ia dizer que não tinha que argumentar com alguém que apadrinha e defende um agrupamento político que, há partida, tem como objectivo derrubar o regime e a actual Constituição Política.
Mas Rio deixou-se apanhar na rede do maior desordeiro da actual política nacional. Rio, pelos anos que leva de vida pública e política, devia saber que era no campo do dichote populista que Ventura lhe tirava o tapete, fazendo estatelar-se no lodaçal onde vive o chefe do Chega ‒ sim, chefe, porque aquilo não é um partido, mas um gangue de arruaceiros (tais como os camisas negras de Mussolini ou os camisas castanhas de Hitler) a girar à volta de ideias ultrapassadas, mas muito perigosas para a estabilidade da democracia.
Faltou a Rui Rio habilidade para fugir aos dislates de Ventura e a persistência para apresentar não o seu programa eleitoral, mas a ideologia do novo PSD que ele quer recompor. Era no campo das ideologias que Rio se devia ter colocado e, desse modo, confrontava um partido democrático com um grupo desejoso de alcançar o poder para lhe dar a volta e acabar democraticamente com a democracia que ainda hoje é possível numa Europa onde se suporta um Morawiecki, na Polónia, ou um Victor Órban, na Hungria. Esse teria sido o caminho mais próprio para deixar claro quem é o PSD de Rui Rio e o Chega, de quem Ventura é uma simples marioneta manobrada na sombra por interesses antipatrióticos e antinacionais.
André Ventura, com a habilidade dos debates televisivos de futebol, onde se discute da mesma maneira que se joga no campo, isto é, tentando bloquear o adversário que leva a bola em direcção à baliza, sem ser detectado pela equipa arbitral, driblou o velho político, que tem, em relação à causa pública, princípios éticos um pouco mais visíveis do que a maioria dos seus adversários, haja em atenção as vezes que, para não travar uma acção de carácter nacional, votou ao lado do PS, quando outros ou se abstiveram ou votaram contra.
Sabemos que André Ventura vai usar do mesmo tipo de alegação ‒ que só pode colher votos junto de ressabiados ou ignorantes das coisas políticas ‒ usada aquando das eleições presidenciais: o insulto, a armadilha, a argumentação pontual e populista, que não leva nem toma em consideração os grandes interesses dos Portugueses, mas somente, e em segredo, os interesses dos grandes grupos económicos dos quais espera, depois, apoio para a prática de uma política de silêncio e contenção democráticas.
Naturalmente, não vou ajudar nenhum dos candidatos ‒ eu, que da prática política nada sei, embora saiba como estudar o fenómeno que a comanda ‒, mas, se tivesse de dar a mão a Rui Rio, aconselhava-o a deixar de lado as pequenas preocupações da pequena política para se dedicar a explicar qual é o projecto social-democrata que ele tem para o país. Ele e António Costa, pois será daí que o eleitorado poderá extrair as bases onde sedimentará a sua opção partidária. Foi assim que se construiu a democracia plural nos distantes anos de 1974 a 1982; discutia-se, a sério, o que era bom para Portugal e para os Portugueses e pouco ou nada os casos do dia (a esses dedicavam-se os interessados na manutenção do obscurantismo de onde nos havíamos escapado).