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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

30.11.22

Tolerância zero


Luís Alves de Fraga

 

Na China, onde começou a infecção viral Covid 19, o governo, logo de início estabeleceu cordões sanitários com uma extraordinária reserva de sair de casa fosse para o que fosse ou pelo que fosse. Cidades inteiras ficaram de quarentena com atrasos económicos significativos. Quando acabavam as ondas de infecção abria-se com muita cautela as portas da convivência social e laboral.

Recordo que foi, então, elogiada a forma como se estava a proceder na China e que só por causa da mentalidade oriental é que era possível debelar contágios. Por cá morria-se que nem tornos sob o fogo de caçadores experientes. Veio a vacina e a abertura foi sendo gradual, cá em Portugal, e um pouco menos apertado por quase toda a Europa. Os grandes perigos tinham passado! E na China, que inventou vacinas para consumo próprio?

 

Bom, na China a tolerância zero manteve-se indefinidamente. Mas não se julgue se trata de uma medida sanitária cautelar. Não, meus amigos. Na China a introdução de redes sociais via web é mentira; os chineses só podem ver o que o governo entende, a censura é muito apertada, as notícias não circulam com a facilidade daqui, do Ocidente. Na China há um perfeito controlo da população e se ele tem sido suportado ao longo de décadas isso deve-se a dois factores: o país progrediu economicamente de uma forma extraordinária e os Chineses acreditam que ‒ e bem ‒ que tal progresso se deve ao novo regime comunista que lhes proporciona bem-estar e uma vida mais desafogada, em especial nas cidades, e, por causa disso, não se repetiu a revolta de Tiananmen, em 1989, em Pequim, nem se está a repetir. Nessa contestação já longínqua o que se pedia era liberdade, uma liberdade quase nos mesmos termos da do Ocidente… e os carros de combate (vulgo tanques) avançaram sobre os revoltosos. E o banho de sangue que se seguiu foi brutal. A repressão calou todas as bocas.

Mas a revolta de agora não exige o mesmo que a de ontem: pede o fim da tolerância zero e a queda de Xi Jinping, não pede as liberdades ocidentais. E porquê esta diferença?

 

Primeiro do que tudo, têm o bem-estar que nunca tiveram e que igualam ao do Ocidente que conhecem ‒ é vê-los aos magotes em Paris, Roma, Florença, Milão e até em Lisboa. Eles vêm ver o Ocidente, mas estão bem com o seu sistema que os obriga a trabalhar, mas lhes dá as vantagens (aparentes) que nós temos por cá ‒, depois têm uma estabilidade social que não os aflige, porque quem não sabe livremente as notícias do mundo, num país tão grande, não carece de as saber ‒ é qualquer coisa semelhante, com diferenças, ao americano médio do interior: sabe que existem os EUA, mas do resto do mundo são ignorantes ‒, em seguida, pressentem que a par do bem-estar se estão a preparar umas Forças Armadas descomunais que não devem ser só para defender a China. Ora, sabem, pelo menos por tradição passada de boca a orelha, os efeitos provocados por uma guerra na economia e no bem-estar geral. Xi Jinping assusta-os, porque uma tolerância zero quando em quase todo o mundo se anda sem máscara e se acredita no valor redutor dos efeitos da vacina, nada tem a ver com a epidemia ou, na melhor das hipóteses, tem pouco a ver com ela. Então para quê a tolerância zero?

 

É que este instrumento, dito sanitário, é, acima de tudo, um instrumento de controlo social e político. É tal e qual como se via, antigamente, nos circos, à batida do chicote no chão, os leões, embora rugindo, saltavam de banco em banco e atravessavam arcos em chamas. A isto chama-se condicionamento ou quase reacção pavloviana: Xi Jinping bate com o chicote e os chineses com muita boa vontade ou só alguma, “saltam” e o Presidente está para ficar. Cogitarão alguns pensadores mais ousados que a China se poderá tornar numa Coreia do Norte abundante, mas de chefia hereditária?

Leia-se Sun Tzu e veja-se como o general ou o político deve pautar o seu comportamento estratégico e diplomático, perante o inimigo ‒ e o inimigo pode ser o próprio povo chinês ‒ actuando com manha, com argúcia, com cautela, com força no momento próprio, aparentando uma tranquilidade e paciência que é característica dos orientais. Ora, Xi Jinping é, nesta altura o general de toda a China e, para prová-lo aceitou impávido e sem emoção no rosto a expulsão do antigo presidente de Hu Jintao do congresso do partido. O novo Presidente não é homem em quem se pode fiar e os chineses, sabendo-o, começam uma contestação que vai direita a uma medida partida dele, para começarem a pô-lo em causa.

Vamos ver quem leva a melhor e a que custo… Para mim, estou convicto que Xi Jinping vai sair vencedor, mas ferido de morte, porque, se ele é paciente, frio e calculista, essas características fazem também parte da cultura Oriental. Preocupa-me o aproveitamento estratégico que no Ocidente, algumas potências de grande influência (USA, Alemanha, França e Reino Unido), possam fazer não deixando que sejam os chineses a resolver por si mesmos os seus problemas, pois uma intervenção externa possivelmente conduz a um conflito armado, muito indesejado nos tempos que correm.