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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.07.20

Sonhos nocturnos


Luís Alves de Fraga

 

Há muitos anos que, durante a noite, tenho grandes desavenças com o mundo! Às vezes, chego a viver cenas de pugilato, quando não de tiros.

Acordo cansado, exausto. Depois, durante a manhã, esqueço tudo.

 

Hoje, após cinco ou seis horas de sono profundo, acordei em aguerrida luta verbal com uma turma de alunos universitários, do 1.º ano, sem experiência de ensino superior.

Para além de indisciplinados ‒ eu tentava, quase debalde, impor a ordem na sala de aula ‒ seis ou sete alunos, ‒ um deles um tipo anafado, vermelhusco e exaltado ‒, exigiam que eu explicasse exactamente o que estava no manual (na universidade, há muito, não há manuais), recusando-se a ouvir a minha dissertação.

Esgotei-me a esclarecê-los que, no ensino superior, o professor não explica manuais; disserta sobre o que julga poder ajudar os alunos a despertar para a reflexão e, acima de tudo, para a compreensão crítica do que vão estudar. O professor não quer repetições de conhecimentos; quer gente capaz de discernir, capaz de pelear pela palavra em defesa das suas ideias, indo buscar argumentos às suas leituras, aos seus estudos. A discussão académica não se faz seguindo um guia, nem um feeling, nem uma obsessão como se fosse a disputa sobre as qualidades de um clube de futebol; a discussão académica faz-se admitindo a dúvida, começando e acabando sempre com um talvez seja assim, porque no saber nada é definitivo.

Com a dissertação do professor, os discentes vão aprendendo um processo de expor o assunto em estudo e análise que, normalmente, não é o único, mas é um dos possíveis.

 

A nada se demoviam aqueles alunos rebeldes. Queriam sair da sala. Disse-lhes:

‒ Se saírem, podem ter a certeza, estão reprovados nesta cadeira.

Saíram.

Acordei cansado, transpirado, mas com uma imensa vontade de não esquecer os contornos deste sonho que, nos últimos anos de ensino universitário, quase se tornou realidade em face da incapacidade dos discentes, vindos do secundário, perceberem que haviam subido um degrau, que os distingue dos alunos repetidores de matérias, transformando-os, se tal quiserem, em jovens adultos capazes de pensar por si mesmos.

É esta a fronteira que separa os saberes básicos dos saberes evoluídos.