Sondagens
Tive notícia que, em sondagens levadas a cabo por agências especializadas, a maioria dos inquiridos – bastante mais de 50% – estava contra as reivindicações dos professores. Lastimo que assim seja, pois confunde a árvore com a floresta.
Realmente, uma coisa é o direito detido pelos professores do ensino básico e secundário, e outra é o pagamento adveniente desse mesmo direito. Se um não tivesse consequências financeiras pesadas – mais ou menos – nos orçamentos de agora e futuros, seria uma tremenda injustiça não reconhecer o outro. Mas têm! E sobre tal assunto não me pronuncio mais. Vou ater-me ao título deste texto: as sondagens.
Estamos num tempo em que, com mais matemática, algoritmo, cálculo probabilístico ou mera adivinhação, com ou sem fundamento lógico, desejamos, no momento presente, saber com fidedignidade, o futuro imediato ou próximo. Já pouco resta, na nossa vida colectiva, deixado àquilo que, num tempo ainda não muito longínquo, se dizia ser a vontade de Deus! Agora não há Deus – que procuro cheio de dúvidas –, porque existem máquinas, fórmulas “mágicas” ou comentadores expertos capazes de nos dizerem “como vai ser”, ainda que, muitas vezes, falhem redondamente.
Em consequência desses desvios possíveis, assaltam-me dúvidas sobre a utilidade das sondagens. E não são despiciendas, pois qualquer pessoa atenta percebe o valor propagandístico de tais divulgações supostamente obtidas por meios tidos como científicos. Repetir-se à exaustão a vitória de determinado grupo, com valores percentuais muito exactos, sujeito, a posteriori, ao referendo popular, só consegue um efeito de derrota naqueles que discordam da vitória e de vitória nos duvidosos dela. Assim, desmobilizam-se os que se sentem vencidos e mobilizam-se os que têm incertezas no triunfo.
Falta-me pouco ou quase nada para aceitar que as sondagens dão fortes “empurrões” na vontade dos indecisos, no espírito de muitos oportunistas desejosos de estarem sempre “ao lado” dos vencedores.
Acredito na respeitabilidade dos responsáveis por tais antecipações do futuro tanto como na dos banqueiros e na dos políticos: quase se convencem daquilo que nos querem convencer. Esta minha certeza cínica fundamento-a na observação da práxis corrente e recorrente de tais grupos sociais. Recorda-me o discurso de um velho merceeiro de bairro lisboeta, na minha infância, que, muito sério, dizia ao meu pai: «Sabe, isto, na vida, há duas honestidades: a que temos por trás do balcão e a que temos quando falamos com amigos, em casa».
Não será assim com muitos – muitos, mesmo – profissionais dependentes da aceitação pública? Não será assim com quase toda a gente, num tempo e num mundo, onde prevalece mais o parecer do que o ser?
Com efeito, para além dos professores e dos seus familiares chegados, a sociedade não está interessada na contagem de tempo deles ou nas perdas salariais que os afectam; está preocupada – isso sim – no que eles podem ganhar mais sem benefício para quem os julga por isso!