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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.01.20

Ser ou não ser jovem


Luís Alves de Fraga

 

Ao longo da minha vida lidei com jovens ‒ digo jovens e não crianças ‒ cujas idades iam dos 17 aos 35 anos. Creio que foi, há anos, estabelecida esta última como limite da “juventude”.

Lidei com jovens nas Forças Armadas ‒ em todos os escalões hierárquicos ‒ e na universidade. Acho que tenho e tive, ao longo do tempo, a percepção clara do que e como é que pensam os jovens. Eu próprio fui jovem e recordo-me de como pensava e sentia. Acrescento que, na minha juventude, todos os rapazes eram chamados a assumir responsabilidades bem pesadas e difíceis de conjugar com deslizes de maturidade ‒ refiro-me ainda à casa dos 20 anos, porque aos 30 esperava-se que já não falhássemos.

 

Com o rodar do tempo, percebi que, embora assumindo cargos responsáveis, os jovens iam estando menos atentos aos valores herdados do passado e preexistentes socialmente, julgando dispensável a experiência vivida por outros.

Para perceber a diferença de épocas e não se julgar que estou fazendo um discurso de velho preso àquilo que se designa por “o meu tempo” darei um exemplo.

 

Ninguém tem dúvida que o golpe militar de 25 de Abril de 1974 foi conduzido essencialmente por capitães e majores e um ou dois tenentes-coronéis. Vejamos as idades de alguns dos mais proeminentes à época: Vasco Lourenço ‒ 31 anos ‒, Melo Antunes ‒ 40 anos ‒, Otelo Saraiva de Carvalho ‒ 37 anos ‒, Vítor Crespo ‒ 42 anos ‒, Costa Martins ‒ 36 anos.

Nenhum destes homens ‒ e Melo Antunes estava em condições teóricas para o fazer ‒, no dia da revolta reivindicou a cadeira do Poder para dirigir Portugal rumo à liberdade e à democracia. Todos optaram por entregar à Junta de Salvação Nacional esse encargo. Esta compunha-se de quatro generais com idades iguais ou superiores a 50 anos, um coronel com 52 e um capitão-de-mar-e-guerra com 56 anos.

 

Ora, vem isto ao caso, porque há dois dias foi eleito para dirigir um partido político com marcadas responsabilidades no quadro parlamentar um jovem que nem tem ainda idade para se candidatar ao lugar de Presidente da República.

Para mim, muito mal vai a política quando confia no fulgor juvenil de um candidato que, ainda agora, acabou de nascer para a vida profissional e estará “no ovo” para a vida pública.

O discurso dele, necessariamente, terá de ser feito na base de chavões populistas com tendências reaccionárias e ou tradicionalistas, marialvas, sexistas, talvez homofóbicas, talvez xenófobas, talvez racistas sem grande alcance pelas consequências do “fogo” que poderá atear.

 

Onde está a sensatez de um partido que, sendo de direita, soube acolher gente como Adriano Moreira ‒ a quem se pode atirar o labéu de colaborador de Salazar, mas a quem se tem de dar crédito pela sua capacidade de integração no jogo democrático ‒ Basílio Horta, Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa e, até mesmo, Paulo Portas?

Que viragem pretende fazer o nosso partido de direita democrática? Vai radicalizar-se para espantar o que mais à direita se lhe afigura?

Na minha opinião, mal de um partido político que se entrega por inteiro na insensata “sensatez” de um jovem carente de protagonismo, de visibilidade e de experiência. Mal para o partido e mal para todos nós, pois, o que um faz afecta todos.