Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

24.11.20

Sentimentos


Luís Alves de Fraga

 

Fala-se de sentimentos como algo que transportamos, que nasce connosco, que cultivamos, que aprendemos, que mostramos, que exaltamos. Ora, gostaria de reflectir hoje, um pouco, sobre essa coisa que chamamos sentimentos.

 

Já procuraram no dicionário o significado da palavra? Pois eu topei com dezoito diferentes! Dezoito sentidos diferentes para a utilização desta palavra, vejam bem!

Se me quiserem acompanhar, limitarei o uso desta palavra ao “estado afectivo que tem por antecedente imediato uma representação mental”.

Não oferece dificuldade em perceber o que é “estado afectivo” ‒ aquele que envolve os afectos ‒, contudo, já pode causar alguma estranheza o uso do conceito “representação mental”. Peguemos nele.

 

O homem percepciona o que vê, ouve, palpa, cheira e prova. O mundo é definido pelos sentidos e é partindo deles que se criam no cérebro imagens do que se vê, ouve, palpa, cheira e prova. São as nossas representações mentais.

Numa fase primária ou inicial todos nós percepcionamos representações mentais iguais, mas, na realidade, não são exactamente iguais, porque a minha representação mental não é, nem pode ser, igual à de quem está ao meu lado a ver, ouvir, palpar, cheirar ou a provar o mesmo que eu. E não é por ver, ouvir, palpar, cheirar ou provar melhor ou pior do que eu! É, simplesmente, porque não somos iguais. O que nos separa e distingue é um outro conceito tão subtil como o primeiro: a cultura.

 

Não me refiro àquilo a que, vulgarmente, designamos por “cultura”, ou seja, o conhecimento de literatura, de pintura, de música, de canto, de dança clássica ou folclórica, de arquitectura e de outros saberes tidos como diferenciadores das pessoas. Refiro-me a um outro conceito de cultura que, na frase simples dos sociólogos e dos antropólogos, se define por tudo aquilo que o Homem aprende com a, e na, sociedade. Tudo, desde o falar, o comer, o vestir, o amar, o odiar, o chorar, o rir, a dor, a alegria, a tristeza, a higiene, a delicadeza, a brusquidão, o pecado, a virtude, enfim, tudo, mas mesmo tudo, porque o Homem nasce nu, nu de todo o conhecimento, de todo o saber, de toda a ignorância ‒ porque a ignorância também se aprende ‒, de toda a maldade e de toda a bondade. O Homem é um dos seres a quem a Natureza não dotou de capacidade de, logo após o nascimento, saber sobreviver autónomo, embora seja o único ser racional e, por isso, capaz de desenvolver raciocínios abstractos. Tão abstractos que a maior parte da vida se passa dentro da sua cabeça, na sua mente. E a vida do Homem só tem sentido se passar pela sua capacidade de abstracção, pela sua capacidade de gerar símbolos que só ele é capaz de descodificar e de lhes atribuir significado, pois, caso contrário, será igual a qualquer ente irracional feito para nascer, viver e morrer sem deixar mais de si do que a descendência procriada.

 

Creio que, pelo dito, se pode perceber a diferença existente em cada um de nós em relação ao seu semelhante ‒ e não mais do que isso ‒, pois cada um de nós é irrepetível, mesmo sendo um clone de um seu aparentemente igual. A diferença está nas nossas representações mentais, em especial aquelas que jamais passam pelos elementos sensoriais: vista, ouvido, paladar, olfacto e tacto, embora os possam ter como ponto de partida. É a cultura o elemento que faz a diferença e aquela é apreendida de formas distintas por cada um de nós, ainda que tendo passado pelos mesmos locais, pessoas, livros, mestres, sensações e, até, progenitores.

Assim, a educação dos sentimentos é uma aparência, porque cada ser humano tem os seus sentimentos susceptíveis de serem feridos, acarinhados ou apaziguados como só ele sabe e ninguém mais! Por isso, o ser humano precisa de isolamento para sarar os seus sentimentos, se acaso ficam doentes. E, da doença dos sentimentos, unicamente o próprio pode saber.

 

A Natureza não podia ser mais perfeita quando criou o Homem, pois só ele é capaz de se desvendar e desvendar a Natureza, desvendar o seu Criador.