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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

13.05.19

Sentimento contraditório


Luís Alves de Fraga

 

Depois de ter seguido nos noticiários televisivos os excertos, escolhidos, da audição de Joe Berardo na comissão parlamentar, fui ver, no YouTube, o diálogo entre Virgílio Macedo e o comendador. Ao cabo de vinte e quatro minutos estava instalado o sentimento contraditório.

 

O que ouvi e, em especial, vi foi um “velhote” aparentemente bem vestido, com grande dificuldade de expressão oral, com um olhar vivo, um sorriso passeante entre o matreiro e o inocente, incapaz de articular um pensamento complexo e longo, perdido e desamparado no meio de gente hostil, tendo como tábua de salvação um cavalheiro sentado à sua direita, que lhe sussurrava as respostas dificilmente balbuciadas, sem certezas nem excessivas seguranças, com grandes falhas de memória, parecendo não entender as insinuações e armadilhas lançadas pelo deputado.

Isto foi o que ouvi e vi. Este foi o meu primeiro sentimento.

 

Findos os vinte e quatro minutos, acabada a gravação onde estavam, contextualizadas, as frases passadas, fora de contexto, nos noticiários televisivos, parei o tempo suficiente para conseguir compreender se tinha estado perante um farsante, um “vilhão” – como dizem na Madeira, querendo significar o nosso, bem lisboeta, “saloio” – ou um velho já falho de memória das coisas recentes que, outrora e em todos os momentos da sua vida de bem sucedido empresário, simplesmente havia sabido pagar a bons assessores financeiros, advogados e críticos de arte, que, provavelmente, lhe governaram o dinheiro de modo a haver para eles a boa quantidade de euros, dólares ou rands, capaz de os levar a uma confortável situação, enquanto trabalhavam à “sombra daquela boa bananeira”, que ia enriquecendo sem discutir nem salários pagos nem negócios para ganhar mais pecúlio.

 

O sentimento contraditório instalou-se. A audição de grande parte das respostas incapazes de serem geradas pelo interrogado, mas sopradas ao ouvido pelo advogado, geraram a contradição. A postura daquele antigo emigrante, baralhando-se entre vocábulos portugueses e ingleses, nada tinha a ver com um Salgado, um Sócrates ou qualquer outro dos inquiridos em tantos e tão diferentes momentos. Havia sinceridade na afirmação de que ajudara a banca nacional comprando acções do BCP com dinheiro disponibilizado pela CGD; havia a mesma sinceridade quando defendeu que a CGD deveria ter cumprido o que tinha contratado com ele e com as garantias que ele oferecera.

Joe Berardo, o comendador montado em bons e grandes cabedais, nada semelhante em argúcia e capacidade argumentativa ao outro comendador – o João Nabeiro – bem mais velho do que ele, pareceu-me um simples testa-de-ferro de quem à sua sombra, com o seu dinheiro e com o seu nome quis fazer grandes negociatas.

 

Aqui está o sentimento contraditório restante em mim depois de não me deixar conduzir e limitar ao que os órgãos de comunicação me deram para “alimento” da mórbida curiosidade de todos nós. Se me fosse imposto o “julgamento” tinha de arregimentar mais certezas, pois só me ficaram dúvidas sobre o “emigrante” rico e quase nenhumas sobre quem dele se soube servir, servindo-o.

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