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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

21.01.20

Secretária da Cultura


Luís Alves de Fraga

 

As pessoas são muito estranhas!

Não se deve esperar que um actor seja coerente com o papel que desempenha; claro que um ladrão na tela da televisão jamais terá de ser um gatuno na vida real; menos ainda um assassino ou um santo ou… seja o que for. Uma coisa é a ilusão do teatro, do cinema e da televisão e outra, bem diferente, a vida do dia-a-dia.

Mas, atrevo-me a dizer, a bem de uma ética e de uma certa sanidade mental do actor e da sociedade, que o primeiro deverá ter em conta, nos seus comportamentos fora do palco, o efeito ‒ digo e repito ‒ o efeito social que o seu personagem provoca em quem o vê e ou ouve, já que, um personagem de uma telenovela, de um filme, de uma peça teatral, pode influenciar fortemente quem o acompanha no tempo da representação. Muitas vezes, todos nós agimos em concordância com um certo mimetismo proveniente de uma cena teatralizada.

 

No final dos anos 70, começo dos 80, do século passado, foi lançada, cá e no Brasil, uma série televisiva extraordinariamente real, com problemáticas profundamente actuais para a época e excelentemente desempenhadas por uma actriz, já na altura, de grande craveira artística: Regina Duarte. Aquela mesma que fez de Viúva Porcina, contracenando com o Senhorzinho Malta, mais tarde. A série a que me refiro foi baptizada com o significativo nome de «Malu, Mulher».

 

Quem não se lembra daquela jovem lutadora, independente, resiliente face a todas adversidades? Quem não se lembra de uma combatente pelos seus direitos de cidadania e de gente num mundo cheio de preconceitos ditados pelos homens ainda apegados a um machismo proto-fascista?

Foi essa personagem quem determinou, entre nós, aqui, em Portugal, muitas cópias comportamentais na luta por uma independência feminina num país a sair de um obscurantismo fascista.

 

Na minha opinião, e de acordo com o exposto inicialmente, julgo, a actriz Regina Duarte ao aceitar ‒ como parece ter aceitado ‒ o cargo de secretária da Cultura do Governo de Jair Bolsonaro atraiçoou a Malu, tão independente e tão lutadora por direitos hoje em vias de serem ultrapassados ‒ se é que já não o foram ‒, no Brasil, pelo populista capitão-presidente brasileiro.

Posso estar a exigir demais de Regina Duarte, mas acho que ela, como mulher culta, experiente e independente, deve ter uma atitude muito mais crítica de Bolsonaro do que aquela resultante da aceitação de um cargo governamental.

Enfim, toda a pessoa humana tem um preço!