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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

29.04.19

Saudosismos


Luís Alves de Fraga

 

Escusei-me a fazer qualquer referência às eleições em Espanha, porque havia demasiada “poeira” no ar, ou seja, dizia-se muita coisa com pouca certeza. Todos os dias recebi resumos dos assuntos mais importantes publicados pelo jornal “El Pais”, mas não me foram suficientes para auscultar a opinião do pensamento dos votantes espanhóis. Já se sabem os resultados e sabe-se que, tendo-se registado uma das maiores afluências às urnas, ganhou, sem maioria, o PSOE, que se coloca à esquerda no hemiciclo.

 

Não é desta vitória que me apetece falar, mas da estranha subida de um tal VOX, partido de extrema-direita, com matriz franquista, passadista e saudosista. E quero debruçar-me sobre esta vitória para lembrar aos esquecidos e dar a conhecer, ainda que vagamente, o que foi a ditadura fascista “aqui ao lado”.

 

A Espanha, como unidade política, surgiu somente em 1498, depois da conquista do reino de Granada pelos reis católicos, Isabel I, de Castela e, Fernando, de Aragão. Por aqui se percebe, vagamente, a “manta de retalhos” política e cultural existente no território do lado de lá da fronteira portuguesa. Realmente, a Espanha de ontem resultou da junção dos reinos de Castela, Leão, Navarra e Aragão, sendo que o primeiro, autor da hegemonia, teve fronteira variável até à total vitória sobre os islâmicos.

 

A diversidade cultural sempre existiu na vasta Espanha, ao contrário do que aconteceu no reino de Portugal, porque, cá, depois da segunda metade do século XIII, o monarca deslocou-se da sua “área de conforto” – no Norte e Centro (Coimbra) – para se instalar, de modo temporário, em centros urbanos, que iam de Santarém a Sintra e de Lisboa a Évora, quando não até Silves. Deste modo gerou-se a unidade nacional, com prevalência do Sul sobre o Norte e, por isso, não trocamos os vês pelos bês nem fazemos grande acentuação como xis no cê agá.

 

Não é errado, ainda que seja exagerado, afirmar que a Espanha é uma imposição política, vinda de longe. Mas essa injunção aumentou exponencialmente quase no final da primeira metade do século XX, quando, para derrubar a 2.ª República – proclamada em Abril de 1931 – se deu aquilo que começou por um golpe militar, em Julho de 1936, e acabou numa sangrenta guerra civil só terminada no dia 1 de Abril de 1939, com a vitória dos “nacionalistas” comandados pelo general Francisco Franco Bahamonde.

O fim da guerra não correspondeu ao termo da mais sangrenta e fratricida repressão imaginada. Franco foi um cruel perseguidor dos seus inimigos. E, inimigo era quem discordasse dele e do regime ditatorial e corporativo implantado em Espanha. Os fuzilamentos continuaram por mais de uma década, sem registo dos mortos, sepultados em valas comuns anónimas. A denúncia foi a moeda de sobrevivência na Espanha, que o ditador queria unida e “nacional”.

 

Ainda hoje, em pequenos “pueblos”, na Espanha supostamente unida, mas separada em regiões autónomas – provando a falta de nacionalidade daquele Estado – não se recorda a guerra civil para não abrir, entre as novas gerações, as feridas mais sanguinosas deixadas pela luta que dividiu famílias e vizinhos. Ainda hoje há filhos e netos que buscam as ossadas dos seus antepassados para lhes fazer um enterro digno. O “Vale dos Caídos”, esse estúpido monumento feito a Deus e aos nacionalistas mortos, foi o campo de concentração onde faleceram, a partir e cavar a rocha, sob a opressão dos carrascos vencedores, centenas de prisioneiros republicanos. Franco foi o “animal” perante quem uma Espanha vencida se teve de ajoelhar e incensar.

 

É essa Espanha, carregada de cólera e ódios e com as mãos escorrendo sangue, que vota no VOX, que admira o passado e está plangente de uma vil ditadura criminosa.