Presidenciais — Reflexão II
Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República eleito, disse no discurso da noite da vitória eleitoral que, agora, não havendo vencidos, ele era o Presidente de todos os portugueses.
Apraz-me perguntar:
— Será efectivamente o Presidente de todos os portugueses? Onde vai buscar legitimidade para tal? À “sua” maioria ou à abstenção?
É que se vai buscar essa legitimidade à segunda hipótese, então, ainda está fortemente imbuído do espírito fascista de Salazar e da lógica do plebiscito da Constituição Política de 1933!!!!
— Mas estará só ele?
É evidente que não! Todo o aparelho político nacional, bem como todos os eleitores não abstencionistas, ainda não percebeu que a legitimidade não lhe advém de uma maioria obtida na minoria dos votantes e no silêncio de uma maioria de abstencionistas. Isto assim não é uma democracia! É a autocracia da minoria politicamente activa! Isto tem paralelo na obrigação sentida de votar nas listas da “falecida” e de má memória União Nacional, no tempo do fascismo, por medo pelos funcionários públicos, e convicção política dos legionários e de outros fracos de espírito! É nisso que os votantes, por prática do abstencionismo da maioria, se tornaram nesta “democracia” de pacotilha!
Como fruto de reflexão, em consequência das últimas eleições, só me sinto capaz de considerar ilegítima esta democracia que se diz legítima e legitimada por votos de poucos em face da indiferença de muitos.
Assim, não andamos longe de uma “democracia” paradoxalmente “fascista” ou ditatorial!