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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

04.01.21

Presidenciais


Luís Alves de Fraga

 

Não me pronunciei mais cedo sobre este assunto, nem quero voltar a ele, porque o acho absolutamente descabido e desinteressante.

Marcelo Rebelo de Sousa já está reeleito, mesmo sem eleições! Creio que, sobre isto, não há dúvidas. Contudo, uma vez mais ‒ pese embora algumas qualidades e virtudes que lhe reconheço ‒, sem o meu voto.

Julgo, estrategicamente, uma idiotice apresentarem-se candidatos às eleições. Bastava um e podia ser o mais inócuo de todos, para dizer que se cumpria a tradição nacional contemplada na Constituição da República. Vamos andar todos empenhados na campanha, quando é absolutamente certo a reeleição do actual Presidente. Se Marcelo não se tivesse recandidatado, isso era tudo diferente!

 

Fazer campanha contra um candidato que se refugia na impossibilidade de falar sobre a política nacional, porque, sendo Presidente da República, está impedido de a discutir é o mesmo que marrar contra a parede lisa de igreja dos Jerónimos, em Lisboa: partem-se os cornos e a parede fica lá, impávida.

 

O desempenho popular e popularucho de Marcelo fala por toda a propaganda que não precisa de fazer. Depois, ele está a mostrar que nem é de direita nem de esquerda; ele é daquilo que lhe convém ser, no momento em que for. Ele vai ser igual a si mesmo; não contem com rasteiras ao Costa, por uma razão muito simples: o António Costa e o Marcelo Rebelo de Sousa são feitos da mesma massa, ambos são plásticos, adaptáveis e compatíveis. Ambos sabem navegar à vista com uma natural apetência, a qual é superior à de qualquer político do tempo da democracia portuguesa (isto é, depois de 1974) com excepção do marechal Costa Gomes.

A conjugação Marcelo-Costa resiste a todas as armadilhas da direita à esquerda, porque o Presidente percebeu quem era Costa e este já sabia, há muito tempo, quem era Marcelo. Repare-se no seguinte:

Nunca se tinha estabelecido um entendimento do PS com os partidos à sua esquerda parlamentar; Costa fê-lo com êxito. Ao conseguir esta inédita jogada fez resvalar o seu natural aliado e adversário ‒ o PSD ‒ para um pântano onde só existe desagregação e fez o CDS perder toda a credibilidade eleitoral; este fenómeno político à direita do PS originou uma necessidade de refazer e reagrupar essa mesma direita; aí está o Chega a, de uma forma atabalhoada, por falta de coerência e de bom staff, a erguer-se, sem representar ainda qualquer tipo de perigo para a democracia.

Neste quadro, Marcelo Rebelo de Sousa ia dar a mão ao PSD? Ao CDS?

Só se tivesse perdido capacidade analítica. Ele será, enquanto Costa sobrenadar no mar da política nacional, um aliado do Primeiro-ministro. Quando ou se Costa soçobrar, Marcelo, o Presidente da República, proclamará aos quatro ventos que, no cargo de mais alto magistrado da Nação, terá de cumprir a vontade dos Portugueses, apoiando quem se apresentar na primeira linha para formar Governo.

 

Como se vê, as reeleições dos Presidentes constitucionais têm sido uma fantochada, mas as actuais são-no muitíssimo mais.

É tempo de fazer uma emenda da Constituição e passar o mandato presidencial para dez anos sem reeleição posterior… Acho eu, claro está!