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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.02.23

Preconceitos


Luís Alves de Fraga

 

A vida em sociedade está cheia de preconceitos. Rodeiam-nos sem que tenhamos plena consciência da sua existência. Fazem parte do nosso quotidiano e não damos por eles.

Cresci absorvendo alguns, talvez muitos, mas, foi depois de ter frequentado, no Instituto de Ciências Sociais e Políticas, nos já muito distantes anos de 1970, a cadeira de Antropologia Cultural, que, em breve tempo, fui perdendo os mais significativos daqueles que me tolhiam. É que, estudando a fundo como eu estudei, percebemos como havemos de desmontar os preconceitos, que são o fruto da cultura que interiorizámos ao longo da vida.

 

O mais terrível de todos os preconceitos é aquele que opõe homens contra homens, sociedades contra sociedades: o racismo, ou seja, o julgar que há grupos humanos que são superiores ou inferiores a outros por causa da cor da pele.

Na espécie humana não há diferenças nenhumas, porque “funcionamos” todos da mesma maneira: o coração bate de forma igual seja branca ou amarela a cor da nossa pele, sejamos naturais da Austrália ou de Nova Iorque, do Quénia ou da Amazónia. O ser humano, como “recipiente”, é igual em todas as latitudes. A única coisa que varia no Homem é “o que lhe metem dentro”, é o que reside na sua cabeça sob a forma de ideias.

Ora, esse conteúdo não vem da Natureza, pois é proveniente da sociedade onde o ser humano cresce e aprende os princípios comportamentais. Um indígena australiano não pensa nem age como um natural de Nova Iorque, nem como o do Quénia e menos ainda como o da Amazónia, porque cada sociedade tem os seus padrões de comportamento, o mesmo é dizer, os seus padrões de cultura. Um nova-iorquino da classe social mais educada e afortunada não pensa nem se comporta como um rico agricultor da Índia. É à forma de pensar e de fazer os objectos que usa, bem como à forma de se comportar que se chama, em Antropologia, Cultua.

 

Aquilo que para a maioria das pessoas marca diferenças entre os seres humanos resulta, afinal, do meio e dos princípios que lhe foram inculcados pela sociedade onde cresceu ou onde se inseriu. A religião, os alimentos que se comem, a maneira de os comer, a forma de se sentar, a altura da voz quando se conversa, a atenção que se presta aos outros, a caridade, a urbanidade no tratamento com o seu semelhante, o modo como se anda vestido, a atenção que se dá ao mundo exterior, os conhecimentos que se adquirem na escola e nos diferentes graus de ensino, os objectos que utilizamos no nosso dia-a-dia para fazer tudo o que fazemos são manifestações da nossa cultura. Tudo isto varia de localidade para localidade, de país para país. Assim, pode dizer-se que toda a cultura é um preconceito, ou seja, resulta de ideias e comportamentos pré feitos que nos são impostos pelos nossos pais, pelas nossas famílias, pelas nossas escolas, pelos nossos amigos, pelas nossas igrejas, pelos livros, filmes e músicas que lemos, vemos e ouvimos, enfim, pela ambiência onde estamos inseridos.

Deste modo, o racismo resulta de se admitir que o aspecto do “recipiente” determina o seu “conteúdo”. Daqui resulta que uma criança negra criada no seio de uma família branca e alentejana, no Alentejo, quando atingir a idade adulta não é igual a um adulto negro nascido e criado numa cidade de Angola, por exemplo; um, será alentejano e o outro será angolano.

Percebe-se, por conseguinte, que o racismo existe, porque temos receio da cultura do outro. O corolário lógico desta dedução é que, quanto mais as diferentes culturas se conhecerem mais percebem que não têm que se temer, não têm que se recear nem têm de se opor.

 

A História está cheia de preconceitos, porque está cheia de lutas entre culturas diferentes; culturas que não se querem entender, que não querem cooperar, mas preferem opor-se.

Quando formos capazes de perceber que comer gafanhotos fritos é tão bom como comer camarões cozidos somos capazes de perceber que as diferenças entre os povos são meramente culturais e que podemos “deitar fora” toda ou parte da nossa cultura original para absorvermos a cultura que mais nos agrada ou podemos, simplesmente, estar abertos ao convívio com aqueles que possuem uma outra cultura, se a soubermos respeitar, dando-lhe valor igual à nossa. Nessa altura deixará de existir racismo, homofobia, xenofobia e tantas outras fobias cujo fundamento é somente cultural.