Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

20.04.21

Porque estamos em Abril


Luís Alves de Fraga

 

Faltam quatro noites para comemorarmos a madrugada redentora de 25.

Em jovem, talvez já não tanto, ensaiei ser poeta (todos somos poetas alguma vez). E foi em Abril de 1976 que alinhei palavras para serem poema e saiu o que se segue.

Creiam, só já muito tarde retomei este alinhar de palavras que guardo, agora não na gaveta, mas no computador.

Aí vai…

 

Eu vi

 

Eu viu-o chegar ao quartel

para ir à inspecção

trazia na mão um papel

um aperto no coração

 

O vi o clínico aprovar

esse mancebo boçal,

fazer dele um militar

um soldado de Portugal

 

Eu vi o sargento tarimbeiro,

gritando muita vez,

instruí-lo no morteiro

e no tiro de G-3

 

Eu vi-o perder a simplicidade

do pensamento puro

e trocarem-na pela maldade

do soldado maduro

 

Eu vi-o de braço estendido

a fazer o juramento

frente ao general comovido

com o belo alinhamento

 

Eu vi-o quase a partir,

cantando para esconder

o medo de sentir

que talvez fosse morrer

 

Eu vi-o no avião

sentado a soluçar,

tapando os olhos c’o mão

não fossem d’ele troçar

 

Eu vi-o no pântano enterrado

correndo no mato infernal

como estátua emboscado

de baixo de fogo real

 

Eu vi-o com paludismo

e outros males tropicais

doente com reumatismo

tudo sofrendo sem ais

 

Eu vi

Eu vi morrer-me nos braços

esse mancebo boçal

de quem recordo os traços

porque também eu morri

na guerra colonial.

Lisboa, Abril de 1976