Populismo, um perigo à vista
Em Portugal ainda não há populismo!
O que alguns chamam de populismo ao comportamento de Marcelo Rebelo de Sousa é, de facto, popularidade, porque o Presidente da República, no nosso país, não governa, embora possa influenciar a governação. Por conseguinte, a popularidade do Professor-Presidente nunca conduzirá a um movimento populista, no qual ele seja a figura central. Marcelo Rebelo de Sousa nunca chegará a ser um Getúlio Vargas, um Perón ou algo de semelhante. Ele movimenta-se na sombra e o “condutor” populista anseia para si o poder total e não o reparte.
Mas, se está de lado a hipótese de Marcelo Rebelo de Sousa se tornar um líder populista – só possível através de um golpe, que alterasse por completo a Constituição – não estão, quanto a mim, arredadas as condições para surgir alguém capaz de liderar um movimento populista, por isso inorgânico e contestatário do governo e regime democrático de agora. Tentemos perceber.
O desagrado contra o Governo não é de molde a gerar o caldo de cultura popular necessário à movimentação populista. Mas, o Governo tem “pés de barro”, traduzidos pela perseguição obsessiva da redução do deficit. Este objectivo abre a porta a um determinado movimento contestatário: a reivindicação salarial. E, é tão certa esta afirmação, que, desde Julho – com uma impensada e imponderada luta salarial, a dos professores – se definiu o “mote” para, saindo do modelo orgânico de greve, passar ao modelo inorgânico. Explico.
Os professores fizeram greve através da não publicação das notas finais dos alunos. Para que isso fosse possível bastava não estar presente na reunião dos docentes das turmas um só professor. Facilmente os restantes se cotizaram para “pagar” àquele o dia de salário que perdia. Era só um de cada vez e não todos os docentes a fazerem greve. Ora, aqui está o embrião da greve inorgânica, dentro da greve orgânica! Para que são precisos os sindicatos, se os grevistas arranjam melhores alternativas para colocar, sem prejuízo, as suas reivindicações? Importante, e só, é que a reivindicação, ao dividir a população em apoiantes e não apoiantes, “toque” num elemento essencial: a emotividade como receptor das “boas razões” dos grevistas.
É exactamente o que se tem vindo a assistir com as greves dos estivadores do porto de Setúbal, a dos bombeiros, a dos enfermeiros e as que adiante surjam.
Daqui salta a pergunta:
⸺ Quem está por trás destas greves e a quem é que elas servem?
Se calhar, interesses que, de momento, não querem mostrar a face e só têm como objectivo gerar o clima para a sensação de descontentamento generalizado, propício ao desencadear de mais reivindicações fora do “circuito institucional reivindicativo”. Posto em marcha esse “clima”, surgirá o “líder natural” facilmente manobrável pelos interesses ocultos ou facilmente descartável, quando se tornar incómodo para esses mesmos interesses – as revoluções engolem os seus líderes!
Quase de certeza, as centrais sindicais já perceberam isto que tentei, sinteticamente, explicar e, também, os órgãos de cúpula dos partidos de esquerda. Resta-me saber se os governantes têm a agilidade necessária para encontrar a resposta apropriada ao surgimento do populismo entre nós.