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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

16.01.23

Ponto da situação estratégica


Luís Alves de Fraga

 

As nossas televisões enchem-se de dizer que a Ucrânia está a oferecer resistência terrível aos russos em determinadas zonas da frente, levando-nos a tomar a parte pelo todo… propaganda pura, que se repercute desde Kiev até aos confins do planeta!

Recebendo armamento pesado e já marcadamente ofensivo, a Ucrânia luta em alguns pontos da vastíssima frente, com denodo, mas sem que as pontuais vitórias alcançadas alterem em nada a grande estratégia definida tanto por si mesma como pela Rússia. Estamos, pura e simplesmente, a assistir a confrontos de desgaste onde o movimento e o choque foram substituídos e suplantados pelo poder de fogo. Estamos perante operações flageladoras e desgastantes.

 

Uma diferença poderá ocorrer para Moscovo fazer vergar Kiev: um ataque a Norte, ou seja a abertura de uma nova frente, conduzido sem disfarces pela Bielorrússia. Isso sim, altera toda a estratégia e volta ao desenho inicial, pondo em perigo o Oeste da Ucrânia e a sua capital. Será como que o começar a abrir uma tenaz que vai esmagar o que estiver entre os seus dois braços. Mas será a Rússia capaz dessa manobra? Que reacção poderão ter a Europa e os EUA?

O elemento que mais está a começar a pesar na balança da Ucrânia é o da falta de efectivos mobilizáveis, pois sendo a sua população muito inferior à da Rússia, Moscovo pode dar-se ao luxo de deixar morrer no campo de batalha muitos mais homens do que aqueles de que dispõe Kiev e o desgaste ser-lhe indiferente (do ponto de vista militar), porque joga com a certeza da superioridade. É evidente que, no plano político, se trata de um mau caminho para Putin, devido à consumição do que lhe resta de capital de confiança junto da população russa.

 

Temos de olhar, também, para os efeitos “colaterais” desta guerra, em especial sobre a Europa e um dos que mais nos aflige é, sem sombra de dúvida, o da inflação brutal em consequência do alinhamento nas represálias contra a Rússia e o fornecimento de gás e de petróleo. Não são nem mísseis nem drones que nos tiram a vida, mas são carências e substituições que se têm de fazer. Elas são tão mais graves quanto o nível de vida na Europa era bom, desenvolvendo uma sociedade de abundância.

Estrategicamente, quanto mais se prolongarem as operações militares e não se levantarem os embargos e as sanções, mais sensível e distante a opinião pública irá ficando do conflito armado. E, naturalmente, por muito que se queira julgar o contrário, ela vai perdendo elã pela causa ucraniana sem que isso corresponda a uma maior simpatia pela russa. Um pensamento do tipo: «Os ucranianos que se lixem, porque por causa deles e da Rússia estamos todos a passar mal», é capaz de se instalar nas mentes do homem vulgar e da rua e, no plano estratégico, não está de todo errado, pois, aquela ideia que se tinha se Moscovo declarasse uma guerra, está a esboroar-se perante a resistência de um só país. Imagine-se se as operações envolvessem todos os Estados da OTAN.

Isto leva-nos ao ponto inicial da propaganda contra a Rússia quando o conflito começou: todos os europeus ‒ e, mais espantoso ainda, inclusive a Suécia ‒ temiam a invasão sucessiva e sem travagem dos exércitos às ordens de Moscovo. Eu afirmei, após as primeiras semanas de operações, que a Rússia, era um tigre de papel, no plano das chamadas forças convencionais.

 

Rematando em jeito conclusivo, direi que Fevereiro, Março e Abril ditarão os termos da paz e do fim da guerra em função da movimentação das forças russas no teatro de operações, já que a Ucrânia só pontualmente poderá passar à ofensiva e, mesmo essa, não terá carácter decisivo capaz de conduzir à mesa das negociações. Para que tal aconteça terá de se verificar uma declarada estabilização e consolidação da frente do exército russo. Nessa altura, Moscovo dará início às movimentações diplomáticas. Se isso não vier a acontecer, ficaremos em frente de uma guerra sem fim à vista, porque só a claudicação de toda a Ucrânia satisfará ao Kremlin e esse objectivo será negado pelos americanos a Moscovo, mesmo que à custa de um golpe de Estado que deponha Zelensky ou Putin para o substituir por alguém que seja mais “maleável”. O mundo e a Europa exigirão soluções dessa natureza. Este facto, por si só, aumenta a louca corrida de Zelensky nas exigências que faz ao Ocidente, pois, agora, trata-se da sua própria sobrevivência em paridade com a de Putin: os Presidentes ditadores e belicistas, para se manterem sentados nas suas cadeiras não podem desistir, e nem o russo nem o ucraniano quer sair deste impasse maculado, repudiado e esquecido pelo seu povo.