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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

24.03.23

Pequenos Quotidianos ‒ 02


Luís Alves de Fraga

 

Da grandeza dos países à diplomacia

Ontem, quinta-feira, no jornal “El País” topei com a notícia que o Presidente do Governo espanhol havia sido convidado pelo Presidente da República da China para se deslocar a Pequim com a finalidade de tomar parte no grupo de trabalho que vai tentar mediar a paz entre a Ucrânia e a Rússia.

Porquê a Espanha, pergunto-me?

E é aí que bate o ponto. Talvez, por vários motivos que vou tentar elencar com base na simples observação do comportamento internacional do país vizinho.

Espanha tem boas relações com o mundo islâmico, em especial o mediterrânico, embora mantenha duas possessões no reino de Marrocos com quem procura entendimentos que satisfaçam ambas as partes com vantagens recíprocas. Por outro lado, Madrid não tem uma relação subserviente com os EUA nem com a NATO, acrescendo, no entanto, que, do ponto de vista militar é uma potência média à medida da Europa. Em suma, os governos de Espanha sabem fazer boa política com a União Europeia, com a NATO e com os EUA. Estes simples factos contribuem para ganhar credibilidade internacional ao ponto de Pequim admitir Madrid como capital capaz de ser intermediária numa tentativa de mediação na actual guerra.

Não é a impotência militar de Portugal que lhe retira crédito diplomático internacional; é a atitude política dos seus governantes perante os EUA e a NATO, porque não está esquecido que foi nos Açores que se deu a conferência final para fazer acreditar ao mundo as razões de invasão do Iraque… Durão Barroso passou de Lisboa para Bruxelas como “pagamento” desse favor diplomático, porque a Base Aérea das Lajes não é o “jardim americano”, nem pertence aos EUA; se Lisboa soubesse impor-se como entidade de Direito Internacional Portugal teria todas as chances de ser tão respeitado como a Espanha.

 

Custo de vida

O acabar com o IVA em certos produtos alimentares (não sabemos quais) que integram o cabaz de compras assim como o aumento dos funcionários públicos (os pensionistas da Caixa Geral de Aposentações estarão incluídos?) será suficiente para compensar a inflação galopante? Não me parece, porque estas medidas vão a correr atrás do encarecimento dos artigos necessários. Devia ser um aumento que “empurrasse” a inflação para trás. Por outro lado, o facto de estarmos num mercado de livre circulação de produtos e bens leva a que a inflação registada noutros Estados seja “importada” quando o que vem do estrangeiro se vende por cá; e não estou a falar de produtos de luxo ou supérfluos, mas sim daqueles que são imprescindíveis, como matéria-prima, para a produção de artigos acabados em Portugal (veja-se o caso das rações para gado e os farmacêuticos, por exemplo).

 

Benefícios políticos da ineficácia governamental

Ou António Costa e a sua equipa de ministros consegue dar uma fortíssima guinada nas estruturas governativas, acabando com as reivindicações sucessivas e diárias, para além de estancar com os pequenos (às vezes grandes) escândalos políticos, ou, nas próximas eleições legislativas, vamos ter uma imensa e brutal surpresa… a extrema-direita conseguir alçar-se às cadeiras do poder. Porquê? Por causa da iliteracia política dos portugueses, que os vai levar a caírem inteiros nos braços da demagogia populista de quem só sabe criticar ao nível dos mais elementares argumentos da rua. Foi isso que colocou Bolsonaro em Brasília e Trump na Casa Branca.

A direita tradicional, liderada por Montenegro, não tem “espaço” de manobra perante a demagogia do Chega (da qual, muitas vezes, em campanhas do passado, usou e abusou) nem um programa de reformas alternativas para garantir aos portugueses uma sociedade de bem-estar. O “liberalismo” anti estatal, que constitui o horizonte político do PSD já foi ultrapassado pela Iniciativa Liberal. Assim, resta-lhe tanto espaço político como aquele que o PS ocupa. Ora, se Costa não souber aproveitar esta legislatura (e parece que não está a conseguir, dada a fraca equipa ministerial) para se colocar numa posição de defesa do Estado Social com iniciativas de ruptura de hábitos e tradições, descuidando-se um pouco na satisfação das imposições de Bruxelas para se preocupar com o que pode garantir a estabilidade política interna iremos cair no “buraco negro” de uma política errática dirigida por gente pior do que a actual, cujo programa é governar-se em vez de nos governar.

É triste ter de ter pena de nós mesmos!