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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

15.01.20

Pequenas coisas importantes


Luís Alves de Fraga

 

Foi notícia há pouco tempo a publicação de um livro escrito, em co-autoria, pelo Papa Emérito Bento XVI.

São sabidas as profundas diferenças de pensamento e de postura entre Ratzinger e Francisco; um, olha a doutrina católica de Roma com rigidez de princípios e outro compreende a necessidade de reforma de algumas tradições, sem, contudo, ferir o essencial daquela religião.

Trata-se, afinal de contas, da permanente luta entre o conservadorismo e o evolucionismo, a mudança, a modernização. E sobre isto, no domínio da Igreja Católica eu ‒ que há muitos anos abandonei todas as práticas públicas desse credo ‒ tenho, no entanto, ideias por mim julgadas “desempoeiradas”, todavia, se calhar, pouco ortodoxas e ou consensuais.

Não compreendo o celibato dos sacerdotes, a confissão auricular, a impossibilidade de ordenar mulheres para celebração do culto, tal como não entendo a clausura e o silêncio em certas ordens religiosas ‒ penso que seriam socialmente mais úteis, desenvolvendo acções de apoio e ensino ‒, confunde-me a dificuldade em reconhecer comportamentos errados do clero e um certo exibicionismo de riqueza e pompa por parte de muitos prelados. Naturalmente, aplaudo os pequenos passos dados pelo Papa Francisco no sentido de uma maior abertura de uma Igreja há muito fechada a toda a mudança. Assim, reprovo o facto de Ratzinger publicar um livro onde, com perspicácia ou sem ela, critica o seu sucessor.

 

O Livre, partido inscrito na matriz da esquerda, tem perdido credibilidade, seriedade e prestígio por causa das atitudes e acção provocatória e inconsequente da deputada eleita, Joacine Katar Moreira.

A escolha desta personagem para primeira figura da lista eleitoral por Lisboa foi um tiro no pé, por falta de observação dos aspectos não revelados da personalidade da senhora. Agora, no próximo sábado e domingo, vai-se debater em conjunto a possibilidade de ela apresentar escusa de mandato, gerando a oportunidade de ser substituída pelo segundo elemento da lista ou de, em última análise, se ela recusar a solução, de ser desligada do partido.

Muita gente não vê importância na necessidade de resolução deste assunto. Eu vejo e explico o meu ponto de vista.

Pelo menos, na Península Ibérica está-se a assistir a uma pulverização de partidos políticos com assento parlamentar, gerando a erosão dos partidos tradicionais, coisa que indicia a perda de interesse do eleitorado nesses velhos partidos, transferindo para os mais recentes a sua simpatia e esperança.

Por cá, a queda do CDS/PP e a redução de votação no PSD parecem anunciar que, também, à esquerda ‒ PCP, pelo menos ‒ algo de semelhante vai ocorrer, ficando o PS e o Bloco como únicas alternativas. A eleição de Joacine dá-nos já a indicação dessa possibilidade, pois certos eleitores ‒ pelo menos em Lisboa, facto com certa notoriedade ‒ optaram por desviar o seu voto dos partidos tradicionais, dando-o a um “novato”. A acção parlamentar da deputada do Livre pode pôr em risco a alternativa da opção à esquerda fora do quadro dos partidos tradicionais. Isto é significativamente importante.

 

Chegam notícias alarmantes do Parlamento: o número de propostas de alteração do orçamento sobe para mais de cento e cinquenta! E todas vindas dos partidos à esquerda do PS.

Este é o resultado da existência do anterior acordo de incidência parlamentar ‒ a chamada “geringonça” ‒, pois demonstra que a abstenção necessária para a aprovação do orçamento tem custos inevitáveis e, até, desconcertantes. Explico-me.

Tantas propostas de alteração, se levadas a cabo, descaracterizam o orçamento ou tornam-no numa peça desarticulada, pois desviam-no do sentido inicial, já que se não concebe um tal documento sem objectivos bem marcados. Mas, pior do que isto, é o facto de com tanta proposta os dois partidos à esquerda darem de si mesmos uma imagem eleitoralista e não de responsabilidade, pois, em vez de se concentrarem em dois ou três objectivos principais e fundamentais, obrigando o PS a corrigir rumos, dispersam-se na ânsia de quererem agradar ao eleitorado, evidenciando, à compita, qual dos dois defende melhor as reivindicações de todos os portugueses descontentes. É por aqui, depois da reformulação do orçamento, e já durante o ano, que a oposição de direita poderá “entrar a matar”, atacando toda a esquerda, porque um cedeu e os outros tornaram-se co-responsáveis por práticas políticas dispersantes. Para mim, isto é muito importante.