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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

15.11.19

Passagens administrativas versus mudança de paradigma


Luís Alves de Fraga

 

Discute-se a passagem, ou melhor dito, a não retenção dos alunos até ao 9.º ano de escolaridade, em Portugal. Há quem lhe chame “passagem administrativa”; julgo, não é essa a intenção do Ministério. Este esconde-se atrás da adequação do ensino a cada aluno, através de definir os objectivos mínimos a serem atingidos no final do 9.º ano. Simplesmente, no estado actual, isto é uma solução utópica; não há professores em número suficiente para um acompanhamento individual e personalizado; não há docentes com prática deste método; não há alunos com hábitos de trabalho individual; não há famílias e encarregados de educação dispostos a vigiar as crianças nesta fase de viragem. Tudo isto é uma utopia!

 

Mas, supondo que não era uma utopia, por estarem reunidas as condições exigidas para pôr em andamento o novo processo de ensino, o que iria mudar com uma alteração tão drástica?

É simples, a resposta.

 

O “output” corresponde à definição de um novo paradigma de ensino e, até, de sociedade, pois ele, por si mesmo, tem como objectivo colocar cada aluno perante as suas incapacidades, limitando-lhe aspirações futuras, porque cada discente é convidado, desde a mais tenra idade, a mostrar a sua capacidade de aprender e não a capacidade de ultrapassar uns teste e uns exames, apontando, de novo, para uma estratificação cultural e socioprofissional desaparecida nos anos que se seguiram à mudança de regime.

Na verdade, a “democratização” do ensino correspondeu a um corte radical na formação profissional intermédia, deixando somente aberta a via para o ensino superior. E, o certo foi que cresceram desmesuradamente as ofertas nesse domínio, de tal modo que “todo o mundo”, de repente, passou a ser Dr. (temos, para dez milhões de habitantes, DOZE universidade públicas ‒ não me vou dar ao trabalho de contar as privadas ‒ para além de institutos politécnicos em todas as capitais de distrito, lançando “pazadas” de licenciados em cada ano para um exíguo mercado de trabalho precisado de técnicos bem preparados com formação intermédia).

Cursos que, no passado, eram profissionalizantes por serem técnicos ou por não carecerem de habilitação universitária ‒ recordo o caso dos oficiais das Forças Armadas, dos enfermeiros, dos fisioterapeutas, dos operadores de meios auxiliares de diagnóstico sanitário, dos professores de educação física, dos professores primários, dos educadores de infância, dos informáticos e de tantos mais ‒ passaram a tornar-se de âmbito superior. Ora, quando tudo é superior, nada é superior! E, assim, entrámos na CEE e na UE, sem quadros intermédios, os quais conseguem formação através do desempenho prático de uma profissão. Para colmatar este tremendo desvio deu-se livre trânsito aos cursos de formação, com durações curtas, onde se aprende aquilo que se pode designar por “pontualidades técnicas”.

 

Se formos olhar para países como a Alemanha, a França, a Itália, para citar os mais próximos, tanto geográfica como culturalmente, chegamos à conclusão de que, após os anos de escolaridade obrigatória, há escolas profissionais que habilitam para o desempenho de cargos intermédios, com uma formação teórica e prática apropriada.

Quer parecer-me, é para conseguir fazer uma reviravolta no modelo educativo português, corrigindo um rumo há muito distorcido, que se está a ensaiar o modelo de ensino que coloca o aluno no centro do processo cognitivo e o professor como mero orientador de trabalho e juiz de capacidades.

 

Se eu não estou enganado, isto devia ser explicado tal e qual o fiz aqui ou com muita mais clareza ainda, pois estamos perante uma mudança radical. Mudança para a qual, como já disse, ninguém está preparado. Assim, o que, de facto, vamos ter são passagens administrativas sem a certeza de que o futuro seja diferente.