Pandemia e guerra
Há meses eu disse que uma pandemia não era uma guerra e continuo a repetir. Não é uma guerra, mas, em certos aspectos, podemos estabelecer alguns paralelos. Vejamos.
A continuidade aleatória de mortos que provoca, o imenso número de feridos (entenda-se, infectados) que faz em cada dia, o desarranjo que provoca na economia, as impossibilidades que impõe na normalidade da nossa vida, a necessidade de adopção de medidas cautelares para evitar ser ferido ou constar na lista dos mortos, tudo faz parecer a pandemia a uma guerra. Para mostrar o que pretendo, acho que chega.
Contudo, vamos ver como seria a nossa vida, o nosso quotidiano, se se tratasse mesmo de uma guerra. Para facilitar, admitamos que o nível de destruição e o tipo de armas eram os da 2.ª Guerra Mundial. Suponhamos que estávamos em Londres em 1941-1942.
Haveria falta de combustível e os nossos veículos não poderiam circular livremente, faltariam os meios de transporte colectivos, seria proibida a iluminação pública, haveria recolher obrigatório, os aquecimentos domiciliários não funcionariam, faltariam alimentos e, com senhas de racionamento, haveria filas para obter o mais indispensável para a alimentação das famílias, os restaurantes estariam fechados, as lojas só trabalhavam para vender o que fosse absolutamente necessário, os hospitais estariam atafulhados de feridos de guerra, cinemas e diversões colectivas não estariam disponíveis ao virar da esquina, o comércio de vestuário caía a pique, as escolas funcionariam onde e quando possível.
Este foi o quadro, muito atenuado, do que se passou em Londres (nem quero debuxar o de Berlim!).
Se a pandemia fosse uma guerra, a situação seria a descrita ou muito pior.
A pergunta que me coloco é:
‒ Nós, em Portugal, na Europa, na Terra estamos preparados para um cenário de carência como o que passaram os nossos pais e avós, nos países onde se lutou para sobreviver?
Resposta:
‒ Não estamos!
Tal como os nossos empresários não estão preparados para enfrentar uma economia de guerra, uma economia de destruição. Não estão, porque querem manter lucros e regalias. Nós, os comuns trabalhadores que vivemos de um salário, também não estamos preparados para nos privarmos do quer que seja. Ninguém quer perder seja o que for e, assim, põe a perder tudo, porque toda a gente está disposta a desrespeitar as leis da guerra que estamos a viver. A sociedade de consumo fez-nos isto. Fez-nos mais egoístas do que a Natureza ao criar-nos. Estamos prontos a claudicar perante o sacrifício, porque vendemos a alma, a honra, a vida ao deus consumo!
Não esqueçamos, no entanto, que há pobres e que a ira dos pobres pode ser tremenda quando tiverem quem os faça alinhar nas fileiras da contestação e da reivindicação, ensinando-os a combater esta mole de gente fraca, que somos todos nós.