Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

29.11.20

Páginas do Meu Diário - 9


Luís Alves de Fraga

19 de Fevereiro de 2019

Hoje é terça-feira. No apontamento de ontem eu estava embalado na análise e descrição da política de Salazar durante a 2.ª Guerra Mundial. Não sei se lhe quero dar continuidade, cumprindo a promessa de ontem. Quase sempre, o que deixo aqui lançado é fruto da disposição do momento e, agora, não me apetece remoer um assunto velho e de uma política que à maioria dos que lerem, um dia, este diário já nada ou quase nada interessa. Estamos noutro século, noutra década, noutro tempo!

A notícia mais gritante que enche os órgãos de comunicação social é a da greve dos enfermeiros. Também não a compreendo. Claro que há direito a reivindicar aumentos de salários e melhores condições de trabalho, mas, numa fase em que se pretende estabilizar a vida política nacional, em que a governação está a levar em conta os desejos de toda a esquerda, estes movimentos ‒ aparentemente descontrolados e só dependentes da direcção de um sindicato ‒ a que poderei chamar inorgânicos, porque fogem ao controlo das grandes centrais sindicais, mais parecem animados pelos populismos de direita ou por aquilo que os mais velhos aprenderam a identificar durante o PREC (1974-1975) como manobras da extrema-esquerda. Os opostos tocam-se na aparência e nos métodos.

Cada dia que passa mais sinto o mau uso que as novas gerações fazem das liberdades consignadas na nossa Constituição. E não é por estar velho! É porque vejo a sua incultura política.

Fala-se muito do fascismo português e da descolonização, contudo, não se fala na reeducação política para a democracia e para a liberdade, que deveria ter-se seguido ao 25 de Abril, em 1974. Têm sido piores os efeitos dessa falta de cultura política do que os da descolonização, a qual reintegrou, rapidamente e bem, os retornados. Teria de ter havido uma aprendizagem do uso da liberdade bem diferente daquele que resultou da bagunça gerada após o golpe democrático. Teria de ter havido uma grande cautela para repensar o que estava ‒ e continua ‒ como matéria residual do salazarismo e do fascismo na vida e no quotidiano de todos nós. As reformas do ensino, em vez de terem anulado os cursos técnicos de comércio e indústria, impondo uma falsa democratização, deveriam ter considerado a necessidade de expurgar os ensinamentos nacionalistas substituindo-os por princípios de democracia. Na minha opinião, foi isto que falhou.

Estou cansado e não me apetece continuar a discorrer sobre este tema.

 

Falta um mês para o meu aniversário. Chegam-me os setenta e oito anos. Jamais pensei atingir esta idade, mas fico contente. A Madalena quer juntar toda a família. Vai ter imenso trabalho, mas gosta de ver uma casa cheia e uma boa mesa posta.

Esta coisa de fazer anos recoloca-me noutros tempos e leva-me a pensar como foi o passado. Em garoto, não tenho memória de alguma vez ter tido festa de aniversário, não a havia para mim nem para nenhum de nós em casa dos meus pais. Depois, quando entrei no Instituto dos Pupilos do Exército, também essa data nada tinha de especial, para além de poder ir jantar a casa onde nada de diferente acontecia. Houve uma excepção, que me marcou: quando fiz dezoito anos. Nesse dia a minha mãe ofereceu-me uma bolsa em malha de prata para guardar as moedas (usei-a anos a fio) e o meu pai ofereceu-me um cigarro, consentindo, assim, que fumasse em casa sem ter de me esconder.

Festas de aniversário ‒ umas pequenas, outras maiores ‒ tive-as depois de casado.

Talvez, por causa do que contei, se compreenda a pouca importância que dou à minha festa de aniversário.

Bom, por hoje chega.