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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

30.12.20

Páginas do Meu Diário - 18


Luís Alves de Fraga

28 de Fevereiro de 2019

Ao cabo de quatro anos de internato nos Pupilos do Exército, duvidei da minha vocação militar e ansiei por sair para, com uma pequena reconversão nas matérias aprendidas, me matricular na Escola do Magistério Primário, em Benfica, com o fim de me tornar mestre-escola.

Não seria uma profissão bem remunerada ‒ os professores ganhavam um valor muito próximo do de um primeiro sargento ‒ mas era, naqueles tempos, uma profissão ainda socialmente muito respeitada, reconhecida e apreciada por esse país fora.

Se formos fazer uma pesquisa entre os mais distintos intelectuais portugueses, da segunda metade do século XIX até ao começo do último quartel do século XX, quase de certeza, numa grande maioria, a vontade de prosseguir estudos e de enveredar por certa actividade teve como origem a influência do mestre-escola; ele sugeria vocações e alvitrava caminhos aos pais dos meninos mais inteligentes. Os seminários católicos tornaram-se no trampolim para adquirir estudos e, depois, prosseguir para outros objectivos.

Na minha tentativa de mudança, quem não esteve pelos ajustes foi o meu pai. Que acabasse o curso e me dotasse com a enxada que me estava a ser proporcionada… Depois, depois poderia fazer o que quisesse. Era um tempo que não admitia réplicas, perante as decisões paternas! E acabei na Academia Militar e, depois, na Força Aérea.

Começava o ano de 1980, era já major graduado ‒ à espera de frequentar o Curso Geral de Guerra Aérea, no Instituto de Altos Estudos da Força Aérea (IAEFA) ‒, estando colocado na Base Aérea n.º 6, no Montijo, por razões que não vêm agora ao caso, fui punido com três dias de prisão disciplinar. Foi um momento de corte para mim. Precisava de fazer o curso e, porque tinha já metade do tempo de serviço, podia, após a conclusão do ano lectivo de 1980/81, requerer a passagem à situação de reserva ‒ com uma pensão no valor de metade do que recebia no activo ‒ e iniciar nova vida no ensino privado ou, até, tentar o público, se tal fosse viável. À actividade, dentro da minha especialidade, não queria voltar!

O inesperado aconteceu: fui nomeado professor no IAEFA. Quatro anos depois, com o apoio de um camarada, também docente, consegui passar para professor da Academia da Força Aérea onde acabei a carreira ao cabo de onze anos de actividade lectiva.

Depois, já na reserva e reformado, continuei na universidade por mais vinte e tal anos.

Ao cabo e ao resto, consegui ser militar e professor, tendo-me realizado como sempre desejei…

O Povo tem razão, «há males que vêm por bem».