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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

19.12.20

Páginas do Meu Diário - 15


Luís Alves de Fraga

25 de Fevereiro de 2019

Reli as páginas já escritas. Não tenho de gostar ou desgostar. Escrevi o que me apeteceu. E a verdade é que escrevi muito sobre História, tal como se estivesse a dar uma aula, quando é suposto estes textos serem meus e destinados a mim. Mas esta é a minha natureza! Para além de ensinar, gosto de reflectir sobre o passado.

É bom que se diga, a reflexão não tem necessariamente de ter o rigor usado quando se faz História; a reflexão é um juntar de informação que vai tomando a forma desejada por quem a faz. Mas, a reflexão não é o caos, nem a balbúrdia anárquica, nem o quero, posso e mando. Tem de ser coerente, lógica e verosímil, caso contrário é um puro gasto de tempo, é uma inutilidade.

Na maior parte das vezes, nas minhas reflexões históricas, procuro dar consistência, através de explicações plausíveis, a aspectos que me foram ensinados, ou por mim estudados, cujos contornos se mostram obscuros.

Poderei chamar História a isto que faço?

Isto não é História, mas é um contributo para preenchê-la, para lhe dar uma face mais lógica ou mais aceitável, não a adulterando. Esse é aspecto mais importante! Não adulterar o passado.

Talvez o melhor exemplo que encontrei, nos meus trinta e tal anos de ensino, para se perceber o que era uma História adulterada é o da presença islâmica no espaço geográfico a que chamamos hoje Portugal.

Mais uma vez, aqui vou dissertar para mim mesmo. Paciência! Talvez um dia resolva dar publicidade ‒ necessariamente relativa ‒ a este diário.

Vejamos a questão em aberto.

Em 711 a Península foi invadida por forças islâmicas vindas do Norte de África. No ano de 732 todos os focos de resistência estavam resolvidos à excepção das montanhas das Astúrias onde se refugiaram os visigodos resistentes, já cristianizados havia muito tempo, formando um reino, em 718, com o célebre Pelágio frente. É conveniente não esquecer que as tropas islâmicas penetraram na Gália até chegarem a Poitiers (a cerca de trezentos quilómetros de Paris).

A conquista definitiva do castelo do Porto, conseguida por Vímara Peres, ocorreu em 868 ou seja, 136 anos depois da derrota islâmica em Poitiers. A conquista de Mértola, no Alentejo, foi feita em 1238, portanto, 370 anos depois da conquista do Porto e só dez anos mais tarde (1248) D. Afonso III juntou, para sempre, ao título de rei de Portugal o de rei do Algarve. Percebe-se que entre 711 e 1248 decorreram 537 anos; qualquer coisa como a data da chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil e a actualidade!

Ora, quando lemos os manuais de História de Portugal ‒ embora lá estejam as datas acima referidas ‒ temos a sensação de que a presença islâmica neste território durou o tempo de arder um pau de fósforo, porque não lhe é dada relevância especial. No entanto, para a perceber, basta pensar no que ocorreu no mundo desde a chagada de Cabral ao Brasil até aos nossos dias.

Assim, parece impor-se a pergunta:

‒ O que justifica este apagamento ou esta rapidez de análise de quinhentos anos de islamismo por terras que vieram a ser portuguesas?

É aqui que começa a minha reflexão.

A ideia de reconquista supõe que se vai conquistar, outra vez, algo que já foi nosso. Pois bem, o problema está neste nosso.

Com efeito, a península Ibérica conquistada pelos islâmicos estava ocupada pelos povos autóctones e pelos invasores visigodos, que dominavam. Estes converteram-se ao cristianismo, mas um cristianismo bem diferente, porque estávamos no século VIII, do que o cristianismo dos séculos IX e, acima de tudo, daquele que se vivia nos séculos XII e XIII. O cristianismo sofreu alterações durante séculos, tornando-se radical e declarando como manifestações heréticas todos os desvios doutrinários discordantes dos ditados pela Santa Sé.

Sabendo-se que na península Ibérica os islâmicos consentiram a continuidade da prática cristã herdada dos Visigodos, que, com o rodar dos séculos, se confundiu, somente na aparência, com a cultura do Islão, denominando-se por moçárabe ‒ pareciam árabes, mas eram cristãos ‒ não é de estranhar que Roma considerasse estes cristãos como uma forma de heresia (razão quase provável da morte violenta do bispo moçárabe de Lisboa aquando da conquista da cidade).

Posto isto, não me repugna aceitar que a Igreja Católica Romana tenha determinado, ao longo dos anos, dos séculos se quisermos, a centenária presença dos muçulmanos na Península a algo que quase se poderia reduzir a semanas, meses ou poucos anos. Não é de estranhar, também, que esta a conquista se tenha chamado Reconquista, o que resulta numa profunda adulteração da verdade, pois, cinco séculos são metade de um milénio!

Foi esta a adulteração da História. Chamo-lhe adulteração, porque, não sendo uma falsificação, é um método de parecer correcto, para ser, de facto, incorrecto.

Infelizmente, este método está a tornar-se natural na História da Actualidade.

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