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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

21.01.23

Os nossos partidos no parlamento


Luís Alves de Fraga

 

Inspirei-me para a escrita deste texto na audição de uma entrevista da historiadora Raquel Varela. É ela que me leva a escrever o que se segue, porque muito do que digo foi dito por ela, com quem concordo.

Raquel Varela debate-se pela reposição do termo burguesia em vez de “capitalistas” e “classe média”, porque na burguesia há capitalistas e capitalismo e, digo eu, há tiques que as classes médias copiam dos capitalistas, tornando-as burguesas.

 

Se olharmos para o nosso parlamento temos uma imensa mancha de partidos burgueses e só um pequeno espaço para ser ocupado pelos partidos que representam o proletariado (palavra que sucessiva e lentamente foi substituída por trabalhador… e eu que, ao levantar-me, de manhã, depois de fazer o essencial para estar vivo, venho “trabalhar” para o computador, escrevendo o que vos deixo quase todos os dias, não sou nem proletário, nem trabalhador, sou um reformado que sente necessidade de comunicar o que pensa, sou um burguês diletante).

 

Mas onde começa a mancha burguesa no parlamento?

Sem sombra de dúvida, na extrema-direita, no Chega (CH). Podem chamar-lhe populista, fascizante, xenófobo, mas, tudo isso e muito mais, faz parte de uma certa forma burguesa e perigosa de estar na vida. Perigosa, especialmente para quem não comungar dos mesmos princípios do Chega.

Depois, vem a Iniciativa Liberal (IL), que traduz, de forma inequívoca, o pensamento da burguesia mais identificada com a liberdade e o individualismo dos liberais do século XIX, ainda que se maquilhe com os “cremes” novos do século XXI. Sem sombra de dúvida, são eles quem advoga que, a liberdade individual acaba onde começa a liberdade do outro, assim, procuram estender a sua liberdade até limitar a liberdade alheia a pouco mais do que à obrigação de trabalhar.

E vem, de seguida, o Partido Social Democrata (PSD), que nasceu para dar guarida aos salazaristas envergonhados ‒ os sem vergonha estavam no CDS ‒ e se propôs, ao longo dos anos, a fazer de Portugal várias coisas desde socialista a social-democrata e neoliberal; é um partido que, talvez mais do que nenhum outro, se “descolora” consoante a corrente que apoia o líder de momento. É um dos partidos mais burgueses do leque parlamentar e, quanto a mim, dos mais perigosos, porque se afirma, ultimamente, de centro direita, mas pode, em qualquer altura, guinar para um extremismo oportunista.

Ainda burguês, sem receios nenhuns, é o Partido Socialista (PS). Diz-se defensor da social-democracia, daquela que existe nalguns Estados do Norte da Europa, mas é uma pura intrujice, pois a social-democracia só é viável em Estados onde a riqueza produtiva seja muito grande e os lucros muito abundantes para, por via fiscal, se ir redistribuir esses lucros sob a forma equitativa de benefícios sociais à população, logo, aos proletários também. Assim, o PS nem chega a ser um partido operário nem trabalhista; é claramente um partido burguês com vagas preocupações sociais.

O partido que se segue é o das Pessoas e da Natureza (PAN), que, dizendo-se, ecologista é uma variante vocacionada e bem orientada do liberalismo comum à IL e ao PSD. Aliás, se há alguma preocupação socializante neste agrupamento ela entremeia-se com pessoas e animais, manifestamente mais virada para os últimos.

Muito isolado está o partido Livre (L) que representa uma tentativa de um socialismo a rondar a descolagem da burguesia para se aproximar dos princípios proletários, mas, por força das circunstâncias, não tem espaço entre os eleitores, nem no país se compreende o discurso deste partido político.

 

Na ala, efectivamente, de esquerda está o Partido Comunista (PCP) que diz defender e lutar pelo proletariado (palavra que anda arredada do seu léxico), constituído, na sua cúpula, por uma elite de proletários que, por estarem completamente dedicados ao partido já não são, como diz Raquel Varela, nem operários nem proletários, porque, na verdade são funcionários intelectuais do partido. De certa maneira, são burgueses, tal como o foram Marx e Engels, porque a distância entre a opção de classe e a pertença à classe é imensa.

Do Bloco de Esquerda (BE) nem deveria falar, pois as diferentes correntes de pensamento são tantas que, sendo todas, burguesas se reclamam da defesa dos trabalhadores e dos proletários, mas com comportamentos muito pegados à burguesia. O pragmatismo do BE, na esquerda, é tanto que dilui qualquer ideário político que esteja por trás do agrupamento.

 

Do que escrevi, percebe-se que o nosso parlamento está, de um lado ao outro, cheio de burgueses que se batem por alcançar o poder executivo para darem corpo ao seu projecto, que, inevitavelmente, terá de ser burguês… muito, suficiente ou pouco burguês, mas sempre burguês. É que, saltando do parlamento para a rua, há uma imensa diferença entre o Portugal de há cinquenta anos e o de hoje.

Hoje, no nosso país ou há burgueses ou há pobres com aspirações ao limiar do estatuto de burguês. O mundo de hoje deseja ser burguês, com os requintes das várias gradações disso que chamo burguesia. Só que há uma burguesia ‒ a extremamente rica ‒ que quer esmagar todos os outros potenciais burgueses a uma situação de dependência que satisfaça aos mais ricos todos os desejos imaginados e por imaginar.

 

Voltando aos partidos, o que os separa e divide é a forma como tentam cativar o projecto burguês que há em cada eleitor para se alcandorarem ao poder e, depois, com uma vaga legitimidade, conduzirem esta barca a naufragar para os braços de quem a faz soçobrar de vez.

Estarei assim tão enganado?

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