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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.04.19

Oportunismo


Luís Alves de Fraga

 

Na valência mais simples, o significado de oportunismo é “a capacidade de aproveitar situações”, contudo, vulgarmente, é um atributo negativo: “garantir para si algo sem olhar a meios nem a princípios morais ou éticos” (estes conceitos, entre aspas, são da minha autoria).

 

Olhando para trás, já que estou na recta final da minha vida, parece-me que nunca fui praticante de oportunismos no sentido pejorativo. Tudo o que fiz foi fruto de muito trabalho e de muito esforço. Todavia, não desprezei oportunidades; aproveitei-as para, à custa de mim próprio, às vezes com algum sacrifício da família, alcançar, honestamente, os meus objectivos.

Mas, neste dobrar de “esquina”, na estrada da vida, dou-me, também, a analisar os percursos de certas personagens com alguma projecção pública e reparo que, ou por lisonja fácil ou por uso de meios menos curiais, calcando aqui e além cabeças inocentes, estão alcandoradas em pedestais não merecidos, segundo um julgamento imparcial. Isso dói-me, pois, o comum dos cidadãos, incautos ou sem meios de prova, aceita-os e rende-lhes homenagem como só se rende aos honestos, íntegros e impolutos.

 

O instrumento capaz de trazer ao conhecimento geral a verdade com todos os matizes que a adornam é a História. Mas a História, entre nós, ainda é só aceite como uma investigação que se faz ao cabo de muitos anos sobre a ocorrência dos acontecimentos. Justifica-se a atitude com base na “depuração” e “decantação” que o tempo faz sobre os factos, ou seja, deixa-se que uma névoa de esquecimento cubra as cores vivas do presente para o transformar em passado distante e manuseável. Manuseável para transformar a verdade em “história apologética”, o mesmo é dizer, “história conveniente ao momento”, sendo que, por momento, se entende aquilo que politica e socialmente é aceite sem reticências.

A esta história opõe-se a História, aquela que conta e explica sem julgamentos nem simpatias, simplesmente relata TUDO para que se possa compreender sem ter necessidade de indicar “caminhos”.

 

A História – esta de que falei agora mesmo, grafada com agá grande – para ser feita exige, muitas vezes ou quase sempre, um tremendo esforço do historiador, já que, não cometendo anacronismos, tem de possuir uma sagacidade de “polícia criminal”, tentando sempre descobrir intenções e motivações na acção dos “actores” históricos. Isto implica a necessidade de separar os historiadores entre os que somente contam o que agrada ou é tradicional e os que pesquisam, investigam, até chegar ao miolo, ao núcleo, do acontecimento, porque esses, quando vão escrever, para além de contar, relatam, também, os elementos necessários à compreensão dos porquês.

 

A vida dos historiadores de amanhã estaria muito mais facilitada se entre nós fosse completamente aceite e praticável, por gente habilitada, honesta e impoluta, a chamada “História do Presente”, que nada tem a ver com jornalismo, mas com o relato retalhado, escalpelizado, contextualizado do passado de “ontem”, sendo que este “ontem” pode ter sido aquilo que se passou há um ano ou há dez. Este historiador tem de continuar a ser o “polícia criminal” que se não deixa manipular nem pelos seus sentimentos nem pelas suas simpatias, nem pelas suas tendências políticas e, muito menos, pelos receios da crítica social. Não é um juiz, porque não julga nem tem que julgar, mas procura com afinco a nudez da verdade, quase sempre coberta por um véu diáfano.