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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

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Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

26.05.22

O erro da Europa nesta guerra


Luís Alves de Fraga

 

Não sou um articulista com direito a informações privilegiadas (nem sei se sou articulista!), contudo, sou um espectador atento com formação em Estratégia (seja política seja militar) e em Ciência Política e, por isso, tenho o hábito de fazer leituras para além das linhas, lendo o reverso do que está escrito, de modo a perceber o que não se diz. Claro, trata-se de um jogo de hipóteses, cujo resultado se apoia em meras probabilidades. Mas, se o leitor não sabe, acredite, é deste modo, embora com acesso a informação recebida de fontes confiáveis ou não, que escrevem nos jornais e preparam as intervenções na rádio e ou na televisão os nossos comentadores de serviço.

Dada esta explicação, vamos então ver qual está a ser o erro da Europa nesta guerra.

 

Constitui um profundo erro este alinhamento subalterno da Europa, em especial da União Europeia (UE), em relação aos EUA. Evidentemente que a actuação escolhida tem um fundamento, mas é pouco ou nada imaginativo. Com efeito, está-se a antecipar o que veio a acontecer no decurso das 1.ª e 2.ª Guerras Mundiais: o pedido de ajuda aos EUA. Ora, é mais fácil repetir um cenário passado do que inventar um cenário futuro, daí que a resolução adoptada seja a que temos à vista. No entanto, o momento actual, em nada se parece com os conflitos mencionados. Vamos ver.

Actualmente há uma aliança de salvaguarda de uma larga faixa de Estados europeus para se precaver de um ataque da Rússia e dá pelo nome de NATO ou OTAN. A Rússia sabe que se atacar um só país da NATO espoleta uma guerra com todos os restantes o que, convenhamos, em termos estratégicos, corresponde a um suicídio. Assim, era lógico e prudente que os Estados que fazem parte daquela aliança se mantivessem à margem do conflito, obrigando aqueles que o desejam ou o preparam a mostrar o seu jogo, o mesmo é dizer, a empenharem-se directamente na guerra. Como sabemos, os empenhados em directo são a Ucrânia e a Rússia, mas, indirectamente, estão por trás da primeira os EUA, que, para além de mandarem material de guerra e alguns conselheiros militares, nada mais por lá têm, nem nada mais arriscam.

 

Calculo que os meus leitores estarão a pensar: «E a NATO não obrigava ao empenhamento dos Estados europeus?» Evidentemente, os EUA iriam fazer pressão para um empenhamento indirecto dos países da aliança, mas, não nos podemos esquecer, as decisões são tomadas por unanimidade. Se a França ou a Turquia ou Portugal ou outro qualquer Estado, isoladamente ou em conjunto, pusesse em causa as decisões do secretário-geral da OTAN, gerava-se um clima de impasse e, o mais que poderia ocorrer era Washington, unilateralmente, desfazer a aliança ‒ e o que aconteceriam às suas bases nos países europeus onde estão instaladas? ‒ ou começar a exercer pressão económica sobre os aliados europeus e aí, a diplomacia europeia ‒ a da UE e não só ‒ teria de saber tirar partido da proximidade com a Rússia para intervir politica e diplomaticamente de modo a interromper as operações militares.

Estranharão os leitores esta abordagem, contudo, creiam que nada tem de original… Fui buscá-la à diplomacia de Oliveira Salazar durante a 2.ª Guerra Mundial, quando estava a ser pressionado por Londres para ceder uma ou várias bases nos Açores. Só correspondeu ao solicitado quando percebeu, em Maio de 1943, que a Alemanha estava irremediavelmente derrotada. É uma estratégia de manha, de toca-e-foge, de faz que sim, mas que acaba em não ou em talvez. É, no fundo, uma estratégia que configura uma indecisão constante, até ao momento oportuno para, cedendo ou negando, obter o melhor possível nas situações mais delicadas.

Está visto que tal modo de actuar pressupunha que, dentro da UE, houvesse uma verdadeira diplomacia de paridade (não haver Estados de segunda e outros de primeira) e que, alcançada a unanimidade, houvesse uma diplomacia capaz de influenciar os governos dos países que não pertencem à União. Trata-se de uma utopia? Não. Trata-se do exercício de uma democracia livre de peias e de constrangimentos onde os fracos não têm de se sujeitar aos fortes.

 

O ganho de uma estratégia desta natureza era imenso, pois, sem desfazer a aliança, mostrava aos EUA que o peso da Europa é maior do que o dos americanos e canadianos; mostrava à Rússia que a Europa não faz a política determinada em Washington e, por maioria de razão, a estabelecida por Moscovo; e modificava a esfarrapada imagem de uma Europa sem força nem importância nas decisões globais.

 

Quanto à Ucrânia, do mesmo modo que a Casa Branca, o Pentágono e o Capitólio estão a sacrificar aquele povo, a Europa sobrepunha os seus interesses colectivos aos de Kiev. Nestas circunstâncias, talvez, nem Zelensky nem Putin tivessem ido tão longe no braço-de-ferro actual, até porque quem está por trás do primeiro são os EUA.

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