O debate
Tenho visto quase todos os debates televisivos entre os diferentes líderes dos partidos que concorrem às eleições no dia 10 de Março. Também vi, mas só hoje, o debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. Não me agradam as interpretações que os chamados comentadores fazem após os frente-a-frente, em especial porque quase nunca fazem análises isentas, imparciais. E não as fazem nem por culpa deles nem por culpa das televisões; não as fazem porque, hoje em dia, torna-se impossível, entre nós e com a conjuntura política existente, ser isento: a sociedade portuguesa está bipolarizada, como, aliás, já deixei dito.
O governo de António Costa pode não ter feito muita coisa, mas lançou, sem dúvida nenhuma, duas novidades: a clara abertura para a construção de um Estado social ou social-democrata e a prática de uma política parlamentar baseada na associação com outros partidos até ideologicamente mais exigentes do que o PS. Hoje temos um país com pilares sociais-democratas preparado para poder crescer de maneira segura nessa via.
O debate de ontem entre os líderes da AD e do PS deveria ser conduzido nesse caminho, isto é, no daquilo que separa uma social-democracia de um capitalismo determinado pelos movimentos do mercado. Não foi porque interessa muito mais a um povo indevidamente politizado que prevaleceu a discussão dos imediatismos em vez das diferenças ideológicas. Não, foi porque essa clareza ia abrir brechas terríveis entre um povo que não sabe conviver democraticamente. Contudo, no meio de uma confusão de “picadas” entre Pedro Nuno Santos e Montenegro, o primeiro foi mais capaz de expor métodos e caminhos para continuar uma obra de construção de uma sociedade financeiramente mais justa do que o segundo que, ao cabo e ao resto, atirou sempre para as alavancas da lei da oferta e da procura, ou seja, do mercado, a solução do futuro dos portugueses, empurrando o papel económico do Estado para o de simples espectador das evoluções de todas as volubilidades de quem vende ao preço que mais lhe agrada e nós sabemos o que isso pode representar: pobreza, desemprego, descredibilização internacional, carências de toda a natureza e mais um inferno de desesperos.
Em conclusão, quase todos os comentadores, antes e depois, do debate não foram capazes de desvelar o que havia ou poderia vir a haver por trás das palavras dos dois oponentes e candidatos a primeiro-ministro de Portugal.