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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

26.12.20

Natal


Luís Alves de Fraga

Não é um lugar comum, dizer-se que o Natal é a festa mais cristã de todas as festas da humanidade.

Hoje vou reflectir sobre essa questão, não só por estarmos em plena época natalícia, mas porque, realmente, não é comum (pelo menos não tenho topado com escritos focando esta questão) interrogarmo-nos sobre as épocas festivas nas igrejas cristãs e as datas das mesmas.

 

Natal, natalício, natividade são vocábulos com a mesma raiz e que se referem ao nascimento e, por tradição, ao nascimento de Jesus.

Para se perceber onde quero chegar, temos de recuar aos tempos de implantação da doutrina cristã na Europa pagã.

Sem procurar tornar exaustiva a explicação, poderei dizer, sem grande margem de erro, que as ditas religiões pagãs assentaram os seus principais pilares, desde sempre, em fenómenos da Natureza nessas épocas ainda inexplicáveis e inexplicados: o sol, a chuva, o vento, o frio e o fogo; numa fase mais “evoluída”, embora ainda telúrica, houve festejos relacionados com a sucessão das estações do ano e, depois, em fenómenos mais humanos: a morte, o nascimento, o amor, a guerra, o ódio, a inveja, a “virtude”, a traição, as relações incestuosas e muitos outros dos quais as mitologias gregas e romanas nos dão os mais amplos exemplos. Não tendo forma de explicar aquilo que amedrontava a sua existência, o Homem empurrou esses desconhecidos para o plano do insondável, atribuindo-lhes qualidades teológicas. Os deuses ou um só deus desresponsabilizavam o Homem.

 

O cristianismo, uma heresia do judaísmo, para se expandir na Europa e no Norte de África, na fase mais primitiva, ainda apoiado nos princípios ditados pela patrística, teve a perspicácia de aproveitar tanto os locais de peregrinação pagã como os dias festivos em que os “bárbaros” se reuniam para conviver. Foi uma excelente iniciativa para favorecer as conversões: o mesmo sítio ou a mesma data não variavam, mas mudava a razão do festejo. Essa alteração terá sido sentida pelas primeiras gerações ainda recordadas das explicações primitivas mas, com o rodar dos tempos, perdeu-se na memória colectiva a motivação inicial para ficar somente a que os propagadores da nova religião traziam e praticavam.

E repare-se no caso, para mim, mais evidente: o da Páscoa.

Esta época coincide, mais ou menos, com o começo da Primavera ‒ equinócio, no hemisfério Norte ‒ momento em que se festeja o renascimento da vida na Terra: são os gelos que se derretem e brotam as plantas, as flores alegram os campos e, até, algumas espécies animais ganham vida ou surgem de migrações de locais mais quentes e distantes. A Primavera é um hino à vida, contudo, estranhamente, a Páscoa dos cristãos ‒ relacionada ou não com a judaica ‒ é um momento de morte e sacrifício ‒ para os judeus, o do cordeiro e, para os cristãos, o do “cordeiro de Deus”, Jesus ‒, embora, simbolicamente, represente um tempo de “passagem”, que os cristãos “aproveitaram” para ressuscitar aquele que, para eles, é o filho de Deus. Há, assim, na Páscoa, uma ambiguidade: a celebração de uma morte e a de um “renascimento”. E, para a confusão não ser maior, tal como entre os judeus varia o dia de Páscoa, também entre os cristãos tal acontece… Um outro aproveitamento!

 

‒ Mas, e o Natal, quando não há certezas históricas sobre a data do nascimento de Jesus (há, até, quem negue esse dado com base na falta de referências entre os historiadores romanos)?

Pois, parece, o Natal devia ser na Páscoa, por ser o tempo de mudança e de ressurgimento para a vida, o tempo do equinócio!

Mas o Natal acontece em Dezembro, na minha opinião, para se cumprir mais um aproveitamento da herança pagã: o solstício do Inverno, que ocorre poucos dias antes de 25.

Começa o frio e o recolhimento em casa, a adoração dos deuses domésticos com os sacrifícios que a eles são devidos na esperança de uma Primavera que traga, de novo, a fartura, a abundância do que a terra dará para comer e sobreviver.

 

Estarei errado? Muito, pouco ou só alguma coisa?

Nil novi sub sole (nada é novo sob o Sol)…