Medo
É natural que estejamos com medo. Medo de contrair uma doença que é grave e insidiosa, inesperada e silenciosa, mas brutal.
O medo é humano; saber controlá-lo é resultado de desenvolver coragem para o enfrentar e ter esperança.
Fui treinado, na minha juventude, para saber lidar e controlar o medo; não fui treinado para não ter medo. Só os inconscientes não sentem medo. Fui treinado para tomar decisões quando estivesse cheio de medo, controlando-me e tentando controlar os desânimos e os medrosos.
Mais uma vez, estou a aplicar tudo aquilo para que fui treinado. E, porque tenho tempo - o que não nos falta agora é tempo - pensei...
Pensei, neste tempo de medo, no que terão sentido os alemães residentes nas cidades que foram sistematicamente bombardeadas e arrasadas pelos aviões Aliados, na fase final da 2.ª Guerra Mundial (fala-se muito dos bombardeamentos de Londres, mas nada, quase nada dos das cidades alemãs... Ah, a crueldade da História ser feita pelos vencedores!).
Imaginam qual é nível de medo de ficar soterrado por uma bomba caída lá de cima e estar-se impotente perante ela? No medo de que caia aqui e no desejo - quase honesto - de que, se tiver de cair, caia na casa do vizinho do lado?
Quando é que o medo pode transformar-nos em egoístas? Em desumanos? Em animais selvagens?
Só estou a tentar analisar o medo.
Cuidem-se e resguardem-se.