Mais uma!
O país está em crise de locomoção. Faltou combustível nos pontos de abastecimento público, no aeroporto de Faro, esteve prestes a faltar no de Lisboa, pararam autocarros de passageiros na margem sul do Tejo e andou toda a gente à procura de lugar onde pudesse meter uns litros de gasolina ou gasóleo no automóvel particular.
Mais uma greve que deixou Portugal de calças na mão!
Uma greve absolutamente selvagem aprendida com as outras, que venho a denunciar há meses. Uma greve onde não houve negociações prévias. Uma greve em um sector mais do que estratégico para o país.
Não basta assegurar serviços mínimos em consequência de uma requisição civil. Há que garantir que o sustento económico do país não pode ficar entregue nas mãos de meia dúzia de profissões capazes de paralisar actividades fundamentais à sociedade. Não basta a requisição civil. Tem de se mobilizar, de imediato, todos os veículos autotanques das Forças Armadas e mais os seus condutores para providenciar ao abastecimento essencial. Tem de se agir com mão pesada sobre grevistas que, irresponsavelmente, colocam o país à beira de rupturas várias.
Temos de perceber que estas greves são verdadeiras agressões à democracia. Não são democráticas; são reaccionárias, porque corroem a democracia.
A maioria, se calhar, dos meus leitores, não se recorda como caiu o governo de Salvador Allende – em nada semelhante ao de António Costa – no Chile. Lembram-se do golpe militar de Pinochet, mas já esqueceram as greves de camionistas, das donas de casa, e de tantos outros sectores não organizados sindicalmente.
O que eu quero dizer é que as mudanças, tanto para a direita como para a esquerda, têm de ter um “caldo de cultura” justificativo da acção. Ora, o que se está a passar em França, com os coletes amarelos, como o que se passa em Portugal, com as greves – nunca vistas no governo Passos Coelho, mas visíveis agora quando estamos à beira de eleições e onde se pode vir a repetir a fórmula de governação de esquerda – convidam a soluções populistas, abrindo a porta a governos repressivos e incapazes de perceber as reais necessidades das classes médias e dos trabalhadores.
É tempo de o governo assumir, democraticamente, posições de força contra estas fragilidades nacionais.