Lusodescendente e Lula da Silva
Foi um alarido imenso nas nossas televisões o facto de um jovem americano, ao que parece com ascendência portuguesa, ter tido acesso a documentos secretos e super-secretos do Pentágono. “Digam o que disserem, mesmo que digam mal, falem de mim; isso é que importa”, parece ser a frase ideal dos órgãos de comunicação nacionais, porque a ordem intrínseca da prioridade da notícia, entre nós, foi invertida, pois, importante era a divulgação dos documentos e, só depois, a ascendência do seu autor. Cá, rejubilava-se por causa do jovem militar da Guarda Nacional dos EUA ter tido como avô um português e, chegou-se ao cúmulo de discutir se esse sujeito, esse Teixeira, nasceu na Beira Alta ou nos Açores!
Isto é ridículo e, pior ainda, acaba por ser triste, pois deixa completamente à mostra a escala de relevância que as nossas televisões dão àquilo que devia ser notícia, revelando que, afinal, a inversão de valores pouco interessa, pois, o que se discute é a audiência captada, mesmo que se nivele toda ela pela medida mais pequena que possa haver.
Os comentadores, alguns, tentaram remediar as asneiras nascidas nas redacções noticiosas, chamando a atenção para o facto de um militar de baixa graduação ter possibilidades de aceder a documentos com altíssima classificação de segurança. Isso é que é importante, na medida em que põe a claro que a “blindagem” do segredo, no seio do Pentágono, ou não é assim tão estanque como se pensa ou a selecção de quem trabalha com material classificado não é devidamente bem feita. E, deste modo, temos, realmente, notícia, já que nos deixa a pensar se, até, não haverá aqui uma armadilha bem montada para que a informação possa “voar” através da inocência e gabarolice de um jovem insonte, que pagará com a prisão o “golpe” que os generais e a CIA quiseram pôr de pé para dizerem o que não pode ou não deve ser dito pelas autoridades norte-americanas.
Na mesma linha, esquecendo Bolsonaro (ou talvez não) as nossas televisões puseram em destaque “negativo” a visita de Lula da Silva à China e nem deram o devido destaque do que ele disse ou criticou sobre o actual estado de vida nas Nações Unidas.
Lula afirmou que a ONU está longe de defender a finalidade para que foi criada: evitar as guerras e encontrar soluções diplomáticas para os conflitos de interesses que possam ocorrer no mundo. E ele tem, afinal, toda a razão: as Nações Unidas foram boicotadas pelos EUA que têm vindo, paulatinamente, a estender o seu império a todos os Estados da Terra, com exclusão daqueles que procuram fugir, através do aumento da capacidade militar, a esse “abraço”.
Lula da Silva discorda do império do dólar e da necessidade de todo o comércio internacional ser feito em dólares desde que os EUA decidiram acabar com o padrão ouro para dar cobertura às moedas nacionais.
No final das contas, Lula só quer aquilo que todos os Estados, com grandes capacidades ou potencialidades comerciais e produtivas, desejam: consolidar-se através das suas moedas nacionais. Quando o Iraque disse que ia passar a comerciar petróleo em euros… foi militarmente invadido pelos exércitos dos EUA e hoje é uma das várias regiões instáveis da Terra.
Espero que nós e os nossos órgãos de comunicação social saibamos receber Lula da Silva sem ressabiamentos idiotas, porque o mais importante é a nossa economia e o mercado brasileiro ainda pode ser um dos que vale a pena conservar para venda daqueles produtos que por lá tanto apreciam.