Leituras
Creio que já disse aqui, sou um leitor de vários livros ao mesmo tempo. Ou seja, tenho espalhados pela casa livros, que vou lendo em momentos diferentes, tendo a facilidade de não me perder nos enredos, sabendo o que está para trás em cada um deles.
Na juventude ‒ até quase aos trinta anos ‒ fui muito dado a devorar romances; depois, quando me dediquei ao estudo voluntário na universidade, descobri os ensaios e lei-os com a mesma avidez que tinha pela ficção. Romances, agora, só de quando em vez.
De momento, estou a chegar ao meio de um vasto e bem concebido livro de História onde se discute a questão da vida de Cristóvão Colombo (ou Colon, como prefere o autor), da sua nacionalidade e do descobrimento da Índia, navegando para Ocidente.
O autor, investigador, é um açoriano, da ilha do Pico, radicado nos EUA, doutorado pela Universidade dos Açores, e chama-se Manuel da Silva Rosa. Nasceu em 1961 e emigrou para Boston no ano de 1973. Fez da controversa figura de Cristóvão Colombo o centro da sua vida intelectual, empenhando-se na desmontagem dos mistérios tecidos à volta deste suposto genovês.
O livro (Portugal e o Segredo de Colombo) peca por, às vezes, parecer a colagem de vários artigos já publicados, porque se repetem, ditos de maneira diferente, os mesmos argumentos. Mas isto é só e somente um defeito de forma. Nestas coisas da História, o que interessa, de facto, é o conteúdo e o método da investigação; depois, o dizer, depende bastante da experiência e da arte de cada um.
Ora, acontece que Manuel da Silva Rosa fez uma extraordinária investigação ‒ extraordinária, porque exaustiva e cuidadosa ‒ e demonstra três teses: primeira, Colombo não era genovês, nem tecelão, nem ignorante nas coisas do mar; segunda, Colombo era originário de uma família nobre, com vasta e boa educação, aparentado, por via de casamento, com famílias da nobreza portuguesa e era um experiente navegador; terceira, foi um agente secreto de D. João II, que escondeu sua identidade para desviar a atenção dos Reis Católicos da verdadeira Índia, propondo-se chegar lá (à Índia), navegando para Oeste.
Como disse, vou a meio do livro, deleitando-me com cada página que leio ‒ por isso, leio lentamente para meditar cada novo argumento, cada nova intriga ‒ e, parece-me, o autor ainda não chegou ao momento mais interessante, que é o de colocar a hipótese de Colombo ser português. Genovês, não era, e disso já estou convencido!
Quem gostar do género, quem tiver paciência para atacar um grosso volume de História bem fundamentada, leia este livro, porque vai sair mais rico, mais sabedor e mais ciente de que o passado precisa de ser explicado, mais do que contado, e que, para se chegar à explicação, tem de se ter uma vasta erudição e abertura de espírito com uma amplitude de 360º.