Joe Berardo
Diz-se, e é verdade, somos um país de “Chico-Espertos”, ou seja, uma terra onde enganar o próximo é, socialmente, uma “virtude” e não uma deslealdade. Por cá, a corrupção é aceite a todos os níveis, começando na fila do supermercado – tentar passar à frente de quem está primeiro – e acabando nas grandes falcatruas bancárias – onde acções não cotadas em bolsa rendem, sem se saber como ou não, chorudos lucros!
O inefável comendador – ainda não sei, nem estou para procurar, qual foi a comenda que lhe deram e quem lha deu – há semelhança de um outro – este com comenda baseada no café – madeirense, mas com o nome próprio mudado em Joe, para além de ter tido sorte – e que tipo de sorte? caso ainda para se averiguar bem! – com a compra da mina desactivada, afinal rica em ouro, tem-na, também, com os deslumbrados e lorpas banqueiros continentais e, bem assim, com os tecnocratas ao serviço destes, que se vergam solícitos aos “rands” do mineiro teso, que ficou milionário, porque, no fundo (por sinal bastante à superfície!), gostariam de estar no lugar do “desgraçado” emigrante “vilhão” da Madeira. O barroquismo do parágrafo é propositado para testar a paciência dos leitores: serão capazes de voltar atrás para separar as orações, como fazíamos, em tempos idos, ao ler António Vieira ou Camões, que imito com dificuldade?
Sem complicações de maior, Berardo trapaceou a banca ou banqueiros e administradores, de tal forma que hoje as suas dívidas quase ascendem a mil milhões de euros! E, com tanto dinheiro em jogo, há juízes que judiciam vigarices de menos de um milhar de euros, às vezes, umas magras centenas. Felizmente não sou, não fui nem jamais serei magistrado… pois, enquanto militar, tive oportunidade de algumas vezes, olhos nos olhos, contestar ordens por mim achadas impróprias ou inadequadas. Se fosse juiz teria de observar a Justiça como um todo e, enquanto guardião da cega Lei, não condenar miseráveis aldrabões a penas injustas porque a Justiça tem de ser relativa. Quando, porque têm dinheiro, crédito, amizades ou o raio que os parta, há vigaristas a passearem-se por aí e infelizes cidadãos, se calhar acicatados pela necessidade de sobreviver, cumprem penas infamantes nas prisões do Estado, um juiz não pode dormir tranquilo, porque o Estado dá garantias a quem as pode comprar e nega-as a todos os que, por miséria, as não podem ter.
Que Estado é este? E que Justiça? E que Democracia?
Este não é o Portugal de Abril ideado por todos que esperaram um dia ver a terrível ditadura derrubada.