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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

05.06.18

Franck Carlucci


Luís Alves de Fraga

 

Morreu há dias o político e diplomata que foi embaixador dos EUA em Portugal, na altura do chamado PREC (Processo Revolucionário em Curso), ou seja, o período das grandes transformações democráticas resultantes do acto libertador de 25 de Abril de 1974.

 

Era o homem que podia ter desencadeado um processo contra-revolucionário idêntico ao que pôs fim a Allende, no Chile, e colocou no poder o general Pinochet. Não o fez, porque soube cativar e foi cativado por Mário Soares, que lhe deu garantias de que jamais Portugal seria a Cuba da Europa. Deram, segundo se diz, as mãos para evitar o “avanço” do PCP na conquista do poder. Esta será a história que ficará para a História da democracia portuguesa. Mas não é a verdade factual.

 

Não é verdade, porque quem desestabilizou a democratização em Portugal não foi o PCP, nem Moscovo apoiava a conquista do poder por parte dos comunistas. O que o PCP e Moscovo desejavam era algo muito mais simples: conseguir levar o mais longe possível o desmantelamento do fascismo, ampliar as conquistas democráticas até onde elas pudessem chegar, garantir a democracia plural e assegurar que o PCP faria parte dessa democracia. Estes é que eram os objectivos do PCP, que, para os alcançar, falava em nome dos trabalhadores e do Povo.

 

Quem desestabilizou a democratização em Portugal foi uma incontrolada e descontrolada extrema-esquerda, que exaltou os ânimos de todas camadas sociais e, em especial, as mais desfavorecidas, através de exigir medidas utópicas e capazes de gerar o pânico na classe burguesa, desde os sectores mais endinheirados até aos mais modestos, mas com anseios de tranquilidade para as suas parcas economias. Houve, por conseguinte, vários “andamentos” na revolução portuguesa e, é certo, nem sempre nos apercebemos disso mesmo, nós os que vivemos esses quase dois anos de instabilidade.

 

Carlucci teve a percepção dessas derivas revolucionárias e conteve a vontade de Washington “vacinar” Portugal e os Portugueses. A sua “manobra diplomática” consistiu em envolver o PS no pseudo ataque aos “comunistas”, criando uma clivagem entre “bons” e “maus”, empurrando os últimos para um extremo que, “naturalmente” sairia fora do leque “democrático”. Seria uma “democracia” em tudo semelhante àquela que se viveu, até há poucos anos, na região autónoma da Madeira.

 

Os vários golpes dentro do golpe de 25 de Novembro de 1975 permitiram que, logo de seguida, o PCP se tivesse demarcado da extrema esquerda e a acusasse da destabilização do processo democrático. Isso valeu-lhe conseguir a aceitação no leque partidário. Carlucci e Washington ficaram tranquilizados. Portugal progrediu na democracia e na liberdade e pôde entrar na CEE, ainda que sem acautelar convenientemente o seu futuro.