Eurocéptico
Há mais de trinta anos, não acredito no projecto europeu, para além daquilo que o determinou: um espaço comum de mercado para garantir um maior escoamento de produções nacionais.
A Europa, como União política, é um sonho irrealizável, porque aqui está o berço de todos os grandes conflitos armados da humanidade, ocorridos por causa de, também, ter sido a Europa o centro do Mundo, entre os séculos XV e XX. Tais conflitos foram, sem dúvida, aqueles que trouxeram para a humanidade os maiores progressos e as maiores desgraças. O modelo civilizacional preponderante nas regiões não rurais da Terra gerou-se na Europa. O eurocentrismo existiu e, depois do final da 2.ª Guerra Mundial, morreu para dar lugar à bipolarização "superpotencial" e, agora, após a implosão da URSS, à globalização (modelo capitalista apátrida, amoral e corruptor de valores).
O progresso material europeu nasceu sempre da rivalidade económica europeia a qual tem a sua origem mais profunda na diversidade cultural dos povos europeus.
É esta a mais temível "doença" europeia!
A unificação da Alemanha e da Itália, quase no final do século XIX, não servem de modelo à união dos Estados europeus, tal como a Jugoslávia, de Tito, não serviu de matriz para a pacificação dos extremismos culturais regionalmente existentes. Há que perceber que o "bom laboratório" não se impõe ao "mau laboratório"! Basta compreender a disparidade cultural e económica da Itália para perceber que a "uniformização" de valores na Alemanha unida foi o cimento no qual Bismarck se limitou a juntar a "areia" e a "água" necessárias para fazer a "boa argamassa". O que uniu a Alemanha - identidades culturais profundas - dividiu a Jugoslávia - desentendimentos culturais profundos - e foi suporte de uma instável Itália onde o Norte domina o Sul rural e campesino.
Superior à vontade política dos homens políticos está a realidade seminal geradora das diferenças culturais.
Os Estados, pesem embora as soberanias reais, surgiram depois das Nações e procuraram conformar aquelas em todos os aspectos compatíveis. Esquecer este facto é fazer caminhar a Europa na senda do onírico. O mundo está dividido, porque não é culturalmente uniforme e, não o sendo nessa perspectiva, jamais o será na da política. Pode unir-se, momentaneamente, para partilhar de vantagens económicas enquanto estas não ferirem valores irredutíveis que estão na base e marcam as diferenças dos povos. A língua, as tradições, a História têm um peso que nenhuma moeda compra, desfaz ou silencia. Esta é a razão da construção de muros e valas, de fronteiras e de policiamentos na velha Europa actual que já nem Roma susteve unida, no século V, nem outras vontades foram capazes de juntar.