Era Abril
Era Abril, dia 9, comemoravam-se sessenta e sete anos sobre o início da batalha de La Lys, quando morreram, de uma só assentada mais de duas centenas de soldados portugueses, na Flandres francesa, quase em frente de Lille, e estavam quase a cumprir-se onze anos sobre a madrugada da Liberdade, era 1985, quando foi publicada a Lei n.º 4, que estabelecia o estatuto remuneratório dos titulares de cargos políticos. Viviam-se os anos iníciais das mordomias e do dinheiro fácil e barato da CEE.
Por essa altura, fazia onze anos que os Capitães de Abril, nos quais, em papel bem modesto e apagado, me incluo, tinham, abnegadamente, regressado aos quartéis, dispensando favores e tudo o mais que poderiam ter distribuído entre si. Por essa época, tinha eu vinte e três anos, quatro meses e alguns dias de serviço prestado à Pátria, havendo desempenhado as minhas funções nas seguintes localidades: Lisboa (quatro anos), Ota (um ano), Moçambique (vinte e cinco meses), Lisboa (quatro anos), Moçambique (vinte e cinco meses), Lisboa (três anos), Beja (um ano); Montijo (sete meses) Lisboa (cinco meses), Sintra (cerca de cinco anos) e, se passasse à situação de reserva, que a Lei me concedia, auferiria pouco mais de metade do meu vencimento!
Sim, leu bem: pouco mais de metade do meu vencimento, de major, posto no qual me encontrava há seis anos, depois de ter estado nove em capitão!
Os políticos haviam descoberto as tetas da vaca chamada Orçamento! E começavam a mamar com toda a força! Uma força nunca antes vista nem calculada!
E eu precisei de mais dez anos e alguns meses de trabalho para poder requerer a passagem à reserva com o soldo completo de coronel… e fiquei mais quase outros dez anos na efectividade de serviço (ou seja, ainda obrigado a trabalhar para a Força Aérea) para garantir que aos sessenta e cinco anos de idade trazia uma pensão de reforma “condigna” segundo os parâmetros de qualquer servidor do Estado, que não fosse político, porque se for eleito deputado, mesmo que de idade pouco superior a vinte anos começa a receber o que eu hoje deveria auferir como coronel reformado… e não recebo, porque me situo, salarialmente, num escalão “vergonhosamente”, “escandalosamente” “elevado”! Assim, “apanho com a moca dos pregos” e uma significativa percentagem de IRS come-me a “gordurosa pensão” de reformado.
E limitei-me a dar o meu exemplo pessoal… Olha se eu desse o de um professor do ensino básico ou secundário?!!
E Maria de Belém e todo o numeroso “regimento” de políticos que são vivos ou as suas viúvas, se são mortos, “mamam” um subsídio vitalício, acumulável com outras pensões, por se terem disponibilizado a “servir” a Pátria, sem riscos, incómodos, e deslocações prolongadas!
E assim vai Portugal, em véspera de eleição de mais um Presidente da República!