Em Agonia
Com noventa e dois anos, Mário Soares, o primeiro grande "animal político", surgido logo após 25 de Abril de 1974, está, tudo o indica, em agonia, no Hospital da Cruz Vermelha, por onde passou, há muitos anos, António de Oliveira Salazar e Maria Barroso, mais recentemente.
Chegou o momento de calar raivas e ódios e só lembrar que um lutador antifascista agoniza perante o olhar expectante dos Portugueses. Depois de ter sido tudo, ou quase, em política, foi o primeiro Presidente da República civil em seguida à votação da Constituição da República Portuguesa, em 1976. Com ele abriu-se o novo ciclo civilista de Altos Magistrados da Nação. Mais nenhum militar ousou sujeitar-se ao voto popular.
Mário Soares, pela lei da Vida, um dia morrerá. A História já começou a julgá-lo e julga-lo-á daqui por muito tempo. Nós não precisamos de fazê-lo. Basta agradecer-lhe, nesta hora, o que, convictamente, fez por Portugal, e esquecer, ainda que por momentos, o que nos poderá ter desagradado.
Na velha tradição militar, na hora da agonia e da morte, abatem-se bandeiras e honra-se os que nos deixam uma lição de vida, porque os combatentes merecem a nossa admiração, mesmo que tenham combatido nas fileiras opostas.