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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

17.02.19

E os erros?


Luís Alves de Fraga

 

Tenho evidenciado, por várias vezes, os perigos resultantes dos movimentos reivindicativos inorgânicos para a democracia portuguesa. Creio ter deixado claro que estas reivindicações, umas vezes dirigidas por sindicatos integrados nas estruturas sindicais existentes (CGTP e UGT) e outras por agrupamentos laborais não integrados, são o rastilho para fazer surgir a contestação popular capaz de gerar os tais populismos, tão badalados no mundo ocidental.

 

Mas, diz, ou dizia, o Povo “não há fumo sem fogo”, e isso faz-me reflectir sobre a pequena, quase ínfima ainda, “labareda” que se vislumbra por trás dos movimentos reivindicativos capazes de, em breve, se tornarem num feroz “incêndio” populista.

Se, por enquanto, estamos somente a ver o “fumo”, penso, será o momento oportuno de ou perceber a razão dele ou, até, de “apagar” a sua origem.

Vejamos.

 

Qual é o ADN do Partido Socialista? E do Partido Comunista? E, já agora, do Bloco de Esquerda?

O primeiro, sem dúvida, é um partido ancorado na média burguesia, com objectivos virados para satisfazê-la nos seus anseios e nas suas aspirações de bem-estar; não é um partido vinculado às chamadas classes “baixas” e, quando a elas dá atenção, fá-lo na perspectiva eleitoral de modo a conquistar votos.

Já o Partido Comunista tem por objectivo conquistar vantagens de bem-estar, saúde, habitação e escolaridade, no mínimo, para as classes mais desfavorecidas, nomeadamente os trabalhadores mais explorados. A convivência pacífica com as classes médias é meramente táctica, para não “espantar a caça”.

Quanto ao Bloco de Esquerda, ainda que com aspirações muito próximas dos objectivos dos comunistas, não tem o enraizamento deste junto dos trabalhadores, de modo que tem de fazer a sua aproximação eleitoral por vias indirectas junto da classe média, através da proposta de medidas capazes de satisfazer os trabalhadores. É um partido a tentar gerir contradições, daí os frequentes “tiros nos pés”.

 

Olhando para a governação dos socialistas nestes quatro anos, percebe-se que foram frequentes as cedências feitas, em termos orçamentais e legislativos, aos partidos à sua esquerda, que acabaram por empurrar o Governo para uma política onde não está totalmente confortável, mas que lhe rende votos provenientes dos trabalhadores.

 

E a classe média? Pois, esse é o grande e grave problema da actual governação! Fazer subir o salário mínimo e deixar parado o salário dos professores, dos enfermeiros, da função pública e das forças de segurança, para não falar das Forças Armadas é, mais do que se pode imaginar, estar contra a “vocação” dos socialistas.

Na verdade, os comunistas e os bloquistas podem reivindicar para si as medidas de melhoria de vida dos trabalhadores, mas os socialistas, se nada fizerem – e não fizeram nada nesse sentido – terão de volta, como começam a ter, o descontentamento da classe média, sem, no entanto, terem grandes vantagens juntos das classes menos favorecidas. Ou seja, em suma, são, em última instância, os socialistas e o seu Governo quem abre as portas ao populismo nascente. Fazem-no, porque estão comprometidos com a União Europeia no cumprimento do deficit abaixo dos três por cento ou mesmo na ausência de deficit; fazem-no, porque querem dar ao mundo uma lição de “boa governação”; fazem-no, porque, inebriados com alguns bons resultados económicos e financeiros, esqueceram a força do seu ADN.

 

Cuidado, António Costa, cuidado Partido Socialista, pois o despertar pode ser terrível, porque a classe média não tem dúvidas em bandear-se com a direita, se esta lhe prometer as vantagens de boa vida, que jamais cumprirá.

Cuidado, António Costa pois, é tempo de estudar o longo consulado de Salazar e perceber como o ditador conseguiu equilibrar-se, usando a neutralidade da classe média perante a miséria das classes desfavorecidas, o apoio dos grandes grupos financeiros e a constante luta dos comunistas ilegalizados.

A História não se repete, mas há nela, sempre, segmentos de semelhanças a levar em conta.