Dívida pública
Já o disse e volto a repetir: só aumentando a dívida pública se consegue ultrapassar a crise económica gerada pela pandemia.
Por favor, não me venham com soluções de austeridade! Essas justificavam-se (?) se de uma crise nacional se tratasse, ou seja, se resultasse de um mau governo, de uma falência do Estado. Mas, no presente, estamos em situação de calamidade económica semelhante às que ocorreram após as duas Guerras Mundiais. Ora, assim sendo, o remédio tem de ser semelhante ao que então se utilizou…
E o remédio não foi o plano Marshall, como muita gente julga, em relação ao período a seguir à 2.ª Guerra Mundial; o plano ajudou a remontar o sistema produtivo e, consequentemente, a economia dos países europeus, que o aceitaram. Mais, o plano tinha como finalidade resolver a partilha da Alemanha e levá-la a tornar-se num Estado federal e soberano, mas sem intentos hegemónicos na Europa. O plano quis salvaguardar a Europa da influência ideológica da URSS.
Se o plano tinha uma finalidade bem definida, subsiste a questão de saber como é que os Estados resolveram o pagamento da guerra, porque ‒ é preciso dizê-lo ‒ a guerra fez-se com dinheiro! A produção das fábricas de armamento, dos estaleiros e as tropas foram pagas com dinheiro; dinheiro que os Estados não tinham e, por isso, pediram emprestado à banca ‒ a banca ganha sempre com as catástrofes.
Então, por um lado, houve uma injecção de dinheiro na economia europeia e, por outro, uma dívida para saldar. E as dívidas só se conseguem pagar se os Estados forem buscar a quem produz ‒ seja o capitalista ou o trabalhador ‒ os meios financeiros para liquidar juros e capital.
Acrescente-se que o empréstimo pode ser interno e externo; importante é saber negociá-lo, transformando-o em empréstimo de longo prazo. Deste modo, ganha o credor do Estado, pois recebe durante muito tempo o juro, e o devedor, pois tem margem para refazer o tecido económico e cobrar os impostos necessários para liquidar juros anuais e pagar as fatias negociadas do valor do empréstimo.
Portugal tem de pedir emprestado a juro muito baixo e a um longo prazo de liquidação.
É bom não esquecer que a dívida de guerra ‒ da 1.ª Guerra Mundial ‒ da Alemanha a Portugal foi paga há relativamente pouco tempo e que os empréstimos contraídos por Fontes Pereira de Melo, para abrir estradas e lançar linhas de caminho-de-ferro na segunda metade do século XIX, só foram totalmente pagos mais de cem anos depois.
Não nos assustemos com a dívida que formos contrair. Assustemo-nos com o refazer da economia, que deverá ser renegociada com Bruxelas, já que será conveniente levar a União Europeia a perceber a importância de possuir uma máquina produtiva tendente a assegurar a autarcia do espaço comunitário.
Tenho consciência que tudo o que acabo de afirmar é sabido dos ministros mais esclarecidos do nosso Governo; do que não tenho a certeza é que sejam capazes de se fazer ouvir no areópago europeu, e isso será uma lástima!