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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

07.01.17

Da Lenda à História


Luís Alves de Fraga

 

O Dr. Mário Soares morreu hoje à tarde. Virou-se uma página da História de Portugal para se continuarem a folhear outras, que virão dar mais crédito àquela que, agora, está prestes a figurar para sempre onde o tempo a vai deixar.

 

Do antigo Presidente pode dizer-se quase tudo, mas, o mais importante é que foi um combatente pela liberdade, no tempo do fascismo, porque há um “combate”, do qual se está a fazer grande alarde, que, por ser lenda, alguns querem transformar em História. Refiro-me ao “combate” contra o comunismo, em 1975. Refiro-me àquele célebre debate televisivo entre ele e o Dr. Álvaro Cunhal. Ambos sabiam que nunca esteve nos planos de Moscovo transformar Portugal na “Cuba europeia”! Isso foi lenda! Daí que Cunhal referisse com acentuada bonomia o também célebre «Olhe que não, Dr., olhe que não!».

 

Kissingir podia dizer o que quisesse; Carlucci podia avisar o que entendesse, porque, na verdade, o interesse primeiro de Moscovo era que fosse garantida a independência das colónias portuguesas e o seu Governo girasse na órbita da URSS, em especial o de Angola. Foi isto que nem o PCP podia dizer nem Mário Soares podia anunciar, pois, para revolta, já bastava a incompreensão da descolonização feita nos termos em que teve de ser lavada a cabo.

 

Havia conquistas democráticas que agradavam ao PCP? Claro que havia! Havia retornos que poderiam ser evitados? Claro que havia! Mas jamais Portugal esteve em condições de ser uma democracia popular soviética! Nem era isso que Moscovo queria nem era por isso que o PCP lutava! Poderiam imaginá-lo alguns ideólogos comunistas, mas não Álvaro Cunhal nem o Comité Central. E Mário Soares sabia disso, mas era preciso “dar pernas à lenda para ela andar”; era preciso encontrar o ponto que nem Mário Soares nem Álvaro Cunhal pudessem desmentir. E esse ponto tinha de se ficar por um simples «Olhe que não, Dr., olhe que não!», que o Secretário-Geral do PCP repetiu até à exaustão.

 

Mas Mário Soares foi um português que quis levantar Portugal para além do marasmo a que o haviam votado quarenta e oito anos de ditadura. E levantou! Levantou tanto nos diferentes cargos oficiais que desempenhou como nos que lhe couberam enquanto dirigente do Partido Socialista. Isso não se pode negar. Isso não se pode apagar da História.

Mário Soares foi um extraordinário político com uma dimensão muito pouco vulgar entre nós. Mário Soares deixou obra feita na perspectiva do seu tempo, pois não podia, como humano que era, descobrir as reviravoltas que os acontecimentos internacionais iriam provocar.

 

Portugal está-lhe agradecido. A História vai julgá-lo.