Da cadeira para a Democracia
Ocorre neste final de Agosto o cinquentenário da queda de Salazar, a qual acabou por ser a culpada do afastamento do ditador. O almirante Américo Tomás, então Chefe de Estado, teve de o substituir por um dos delfins do regime: Marcelo Caetano, um outro professor de Direito.
Portugal respirou fundo quando uma nova figura de um velho sistema, apareceu na televisão a falar ao país, naquilo que chamou "Conversas em Família". Era um bafo de ar fresco numa ditadura carrancuda. Era a "mudança na continuidade", seja isso o que for. Há quem diga que só mudam as moscas e, na realidade, Marcelo Caetano mandou perfumar a trampa e fazer voar algumas moscas.
A "Ala Liberal", que alguns políticos do PSD querem, agora, fazer crer que foi a origem do partido, foi, na verdade, a "mudança de moscas" no meio da mesma porcaria, que era a Assembleia Nacional. O fascismo mantinha-se, mas com "rosto humano".
Salazar e a sua sombra continuavam a "fazer" gelo na política interna portuguesa. A solução da guerra colonial era a grande mudança que nem Caetano queria nem Tomás "autorizava". Era o abcesso impeditivo do avanço para a Democracia. Marcelo Caetano bem tentou, com sorrisos e simpatia, convencer-nos, a nós que vivemos com consciência esse período, que havia uma "Primavera" na ditadura, mas a ditadura persistiu.
Fui dos que aproveitou ao máximo a "abertura" da censura para escrever em jornais opiniões que podiam ajudar a pensar quem lesse os artigos, mas nunca me iludi: os censores mantinham-se alerta a cortar aquilo que achavam inconveniente para a "tranquilidade" dos leitores de jornais, fossem de grande circulação ou regionais... e estes eram ainda mais "perigosos", porque os liam as elites locais.
Salazar caiu da cadeira, mas não caiu a ditadura, nem a "Ala Liberal" de Sá Carneiro, Miller Guerra, Pinto Balsemão foi o ponto de partida para a democratização. Se querem fazer acreditar nessa história, então, sou obrigado a gritar bem alto, que se trata de uma mentira. Mesmo depois de fisicamente morto, Salazar continuou vivo na política de então e há quem o queira ressuscitar para "resolver" a política de hoje! Mera ilusão ou grande ignorância do que foi o Estado Novo.
Viva a Democracia que temos!