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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

24.11.22

Da ânsia ao disparate de comandar


Luís Alves de Fraga

 

Recebi, via e-mail, convite para o lançamento de um livro no Instituto Universitário Militar (IUM), começando por indicar que o comandante daquele estabelecimento tinha o prazer de etc. Isto deixou-me pensativo, gerando em mim uma tremenda apreensão. Vou explicar-me.

 

O IUM é o herdeiro de três Institutos militares onde se ministravam cursos de formação de oficiais superiores e de oficiais-generais dos três ramos das Forças Armadas (FFAA), a saber: Instituto Superior Naval de Guerra (ISNG), Instituto de Altos Estudos Militares (IAEM) e Instituto de Altos Estudos da Força Aérea (IAESFA). Devo acrescentar que na ordem cronológica formativa dos oficiais das FFAA existem, antes, a Escola Naval, a Academia Militar e a Academia da Força Aérea, constituindo cada qual a respectiva “alma mater” de cada oficial dos três diferentes ramos.

A ideia de formar uma universidade militar foi, há muitos anos, ou lançada ou apadrinhada pelo recentemente falecido Professor Adriano Moreira com uma bem evidente finalidade: gerar uma unidade de doutrina e de pensamento nos oficiais militares de modo a poderem constituir um bloco único, uniforme e monolítico dentro dos organismos que constituem os suportes do Estado. As Academias resistiram à tentação uniformizadora, porque, como é lógico, nos futuros oficiais, têm de se inculcar pensamentos idiossincráticos próprios de cada ambiente de “trabalho”: o mar, a terra e o ar. Todavia, ainda foi tentada a chamada “formação geral comum” com a frequência do primeiro ano das diferentes Academias na Academia Militar, embora fardando já segundo a opção de cada cadete. Rapidamente se percebeu ser um erro que não conduzia a resultado futuro duradouro. Assim, nasceu desse falhanço o IUM, que apanha os oficiais já numa fase de maturação muito mais avançada no plano idiossincrático e ainda suficientemente receptivos para avançar para um monolitismo ideológico e profissional que dê garantias de grande estabilidade.

Acenou-se aos oficiais com a possibilidade de obterem graus académicos iguais aos de qualquer universidade civil, facto que já tinha precedentes nos anos de 1980, quando se legislou no sentido de tornar os cursos das Academias em licenciaturas militares.

 

Fui, no tempo, embora em vão, porque nem tinha voz nem posto para ser ouvido, dos poucos oficiais que discordou da licenciatura, como, mais tarde e já na situação de reserva, discordou da ideia de uma universidade castrense. Um oficial militar não carece de títulos académicos para o desempenho das suas normais funções bélicas, porque a sua profissão é única e inconfundível. Se, por iniciativa pessoal os quer obter (e deve fazê-lo) tem as universidades (civis) para alcançar os títulos e os saberes que mais lhe convierem, podendo chegar ao mais alto grau do conhecimento em perfeita concorrência com os seus pares civis (coisa que não se pode inverter para os civis, frequentando uma universidade militar).

Como se vê, para mim, tudo isto é um erro e uma armadilha ‒ um general não tem que ser doutor nem um alferes tem que ser licenciado e mestre, porque, subtilmente, se está a dar prova de uma inferioridade que se não tem: alferes, capitão, coronel e general são isso mesmo e mais nada, porque têm uma hierarquia que os define e caracteriza. Se, em concorrência com civis, acrescentar à graduação militar um título académico só estará a valorizar-se, a valorizar as FFAA e a superiorizar-se em relação aos seus colegas civis e isso faz toda a diferença!

Só por mera curiosidade, recordo que, em plena Monarquia, um titular, que fosse, em simultâneo, oficial militar, antecedia o título com o posto que tinha nas FFAA, daí que na estátua do duque de Saldanha, em Lisboa, surja primeiro a indicação de marechal e, só depois, a do título que lhe havia sido conferido pela rainha. Sempre foi assim!

 

Mas existe o IUM e os oficiais parece estarem satisfeitos com esta pompa balofa. Ora, se existe tem de corresponder às características de um Instituto Universitário que ou tem um reitor ou um Director e jamais um comandante, porque comandar é um atributo essencialmente militar ‒ mandar em conjunto, na base etimológica da palavra ‒ e uma universidade não é comandada!

Resumindo, sobre uma série de erros, segundo a minha forma de ver, vem mais um ‒ o do comando ‒ mostrar que ou há uma ânsia de comandar ou está a cometer-se um tremendo disparate ao mais alto nível do Instituto Universitário Militar.