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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

10.09.15

Costa e Coelho no debate


Luís Alves de Fraga

 

Vi em directo o debate dos dois "combatentes" empenhados, um, na "conquista" das cadeiras do Governo, outro, na manutenção do direito a continuar com o rabo nelas sentado.

Não careci de ouvir os comentários que, segundo me constou, se seguiram ao debate, para tirar as conclusões sobre quem se "portou" melhor, ou seja, quem merecia levar para o seu partido a "taça" da vitória, se houvesse taça como troféu. Desliguei a televisão e vim para o meu escritório dar andamento a assuntos pendentes. Chegou, agora, o momento de partilhar com os meus Amigos a minha opinião, se tiverem paciência e interesse em a conhecer.

Com alguma admiração, quando os dirigentes de todo aquele "arraial" deram por finda a "festa", disse de mim para mim: "O António Costa deu uma excelente "sova" no Passos Coelho".

E deu. Disso não tenho a menor dúvida!

 

Resta, contudo, perceber se "jogaram" com uma "bola de trapos" ou, como se dizia quando eu era menino, com uma "bola de cauchu" feita do melhor látex das melhores artocarpáceas brasileiras.

Depois de meditar sobre o que me ficou mais preso no ouvido, acho que a "bola" tinha nas entranhas retalhos rotos de tecidos de fraca qualidade, embora fosse revestida de uma resistente meia de nylon das que melhor aspecto têm e que fazem os encantos das damas que as podem usar.

Vejamos.

 

António Costa foi buscar a António José Seguro a qualidade que lhe marca a postura política: o discurso sério, ausente de demagogias, ornado de uma patine que demarcou o antigo Secretário-Geral do PS do comum dos políticos nacionais. Numa palavra: seriedade. E isso esteve bem patente na continuada afirmação de que não fazia promessas sem estar de posse dos dados definidos nos dossiers; limitava-se a indicar objectivos.

Passos Coelho, para não perder o pé, cometendo o mesmo erro da eleição que fez dele Primeiro-Ministro, não quantificou nem fez promessas, valendo-se de dois "dribles" para fintar António Costa, o mesmo é dizer, o eleitorado português: primeiro, critica até à exaustão o Governo de Sócrates e cola António Costa ao modelo de governação daquele; segundo, não concretiza numericamente nenhuma das mais importantes decisões que se perfilam no horizonte e que, com matreirice, já "armadilhou" de modo a prolongar no tempo a sua governação, embora possa já não ser Governo.

 

Disto ressaltou que Costa, estando sempre ao "ataque" no "terreno" de Passos Coelho, "jogou" à defesa no "relvado" do eleitorado, de modo a, não se comprometendo, deixar aberta a porta para se perceber quanto pode fazer de diferente se for Primeiro-Ministro. E, para reforçar esta posição junto do eleitorado, não se poupou a referir a boa gestão que fez quando foi autarca. Quando já tinha percebido que Passos Coelho não tinha qualquer tipo de "ponta-de-lança" para colocar em perigo a sua "baliza", "rematou" a "bola de trapos" de modo a "furar a rede" do adversário quando desmascarou e desmontou a política governamental do Primeiro-Ministro, feita de promessas vãs e aparências, chamando à colação as normas estabelecidas para o regresso dos jovens academicamente qualificados que ganham a vida no estrangeiro. Foi um "tiro" de mestre. Passos Coelho tentou retribuir o "chuto", contrapondo à boa gestão autárquica de Costa a origem dos dinheiros por este usados para saldar dívidas camarárias, mas foi um "golo" na própria "baliza", pois Costa deixou claro que esse numerário provinha da venda dos terrenos que eram da Câmara e serviam para neles estar implantadas as infra-estruturas da ANA!

 

António Costa soube aproveitar ao máximo o debate para deitar por terra Passos Coelho e mostrar aos Portugueses as artimanhas da governação deste último. Eis a razão pela qual o Primeiro-Ministro fugiu a todos os debates televisivos: no curto espaço de tempo, para dar respostas rápidas e concisas, ele, que é um "bom" "jogador" por ter fôlego para grandes "corridas" no "relvado" retórico, fica bloqueado quando se lhe exige um "remate" curto, certeiro e feito a pouca distância da "baliza" do adversário.

 

O debate era necessário? Claro que era! Não exclusiva e principalmente para mostrar o programa do PS, mas para mostrar as incapacidades, as aldrabices e os malabarismos da coligação que nos governou e nos desgraçou, pois, em vez de se limitar a cumprir as obrigações impostas pela Troika, levou-as muito mais longe, porque em causa estava o cumprimento de um ideal político: o desarmamento do Estado para entregar à iniciativa privada todos os mecanismos estratégicos da nossa economia.
Daqui para a frente o PS adquiriu condições para poder vir a formar Governo com alguma margem de manobra, não porque tenha conseguido impor o seu programa, mas porque, derrubando Passos Coelho, como derrubou, deixou evidente que só os socialistas podem ser alternativa à aldrabice da coligação.

 

O PS vai governar melhor e vai repor a situação económica e social que o PPD/CDS destruiu? Não! Vai, no máximo, se tiver uma boa pressão dos partidos à sua esquerda, suavizar a vida dos Portugueses. Mas, para que seja possível “empurrar” António Costa para a prática de uma política de menos austeridade, o nível da abstenção tem de descer significativamente e a esquerda tem de estar disposta a dialogar com o PS, tendo em vista um apoio parlamentar que lhe vai fazer falta.