Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

07.05.20

Consumo ou austeridade?


Luís Alves de Fraga

 

Ontem vi parte de um painel liderado pelo José Gomes Ferreira, na SIC, onde peroraram uns senhores mais do que comprometidos com as grandes empresas e com a alta finança nacional; só um terceiro, professor do ISEG, me pareceu descomprometido e isento.

 

A questão em debate era reflectir sobre como se recuperará a economia portuguesa. Dois dos intervenientes apostavam forte nas medidas de austeridade, ou seja, levar novamente os funcionários do Estado e pensionistas a pagarem a crise de modo a que, com todos os alívios possíveis, as empresas recuperem os lucros perdidos. O professor defendeu, e bem, que a economia readquire pujança através do aumento do consumo e, para tal, a austeridade é absolutamente inadequada, pois, sem dinheiro não é possível comprar.

 

As divergências entre os intervenientes no painel resultam de dois ângulos de análise: ou se pede dinheiro emprestado para superar a crise ou vai-se buscá-lo internamente, evitando o endividamento.

Na primeira perspectiva, transfere-se o pagamento da crise para o futuro, quer dizer, quem vai liquidar a dívida são os nossos filhos e os nossos netos; na outra solução, quem se lixa somos nós, os quase a morrer, os com alguns anos de vida e os com muitos anos de vida pela frente. Ainda mais resumidamente: uns preferem comprometer o futuro e outros o presente imediato.

 

Pessoalmente, aposto na primeira hipótese: comprometer o futuro. Não o faço porque quero empurrar com a barriga o que se passa no presente. Não!

Opto pela solução dos empréstimos por várias razões, das quais destaco duas, que, presumo, são basilares: as economias não tendem, ao longo do tempo, a encolher, mas sim a expandir-se; o preço do dinheiro vai baixando com a passagem do tempo.

Vejamos com o pormenor possível.

 

Foi em 2009 que se liquidou totalmente a dívida contraída cento e cinquenta anos antes por Fontes Pereira de Melo. O peso dos juros da dívida foi tornando-se mais baixo, porque em simultâneo, ocorreram dois efeitos: a desvalorização do dinheiro (efeito da inflação) e aumento da economia nacional (o mesmo é dizer, da capacidade produtiva do país), que deu uma dimensão menor ao valor em dívida.

É evidente que, os juros das dívidas contraídas agora, vão ser, para a nossa capacidade produtiva momentânea, altos, mas, o objectivo, lá mais à frente no tempo, é fazer crescer essa tal capacidade de produção. Numa palavra, esta opção corresponde a uma aposta no enriquecimento da Nação.

Claro, o objectivo dos empresários, investidores na economia, não é o de enriquecer os netos ‒ qualquer um deles ri-se dessa ideia, pois sabe que, deixando boas infraestruturas financeiras ao morrer, os netos, se souberem administrá-las, as vão ampliar ‒, mas o de se enriquecerem a si mesmos, e já, por isso, quanto mais benefícios colherem no momento presente, melhor será, mesmo que à custa do mau passadio dos seus trabalhadores.

 

Espero ter sido suficientemente claro para que os leitores possam compreender os objectivos em presença e, assim, possam formar opinião sobre se a saída para a crise se faz com austeridade ou com consumo.