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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

25.07.22

Comparações e a paz


Luís Alves de Fraga

 

Como já disse há tempos, recebo, via e-mail, resumos de vários jornais diários nacionais e estrangeiros que, de acordo com o critério de quem os escreve, vão realçar as notícias mais importantes.

Hoje, saltou-me à vista, por ser gritante, o total silêncio de o El País sobre o bombardeamento do porto de Odessa e a repetição da notícia no resumo do Expresso.

Não quero tirar conclusões apressadas, mas nem todas as diferenças podem ser jogadas no valoroso caixote da ética jornalística, em cuja tampa figura a frase chave do bom jornalismo: Verifique a veracidade do que vai afirmar. Jornalismo não é mexerico de bairro, não é repetir o que foi ouvido aqui para dizer além. Jornalismo ‒ quando eu estudei Sociologia da Comunicação ‒ é actuar em dois sentidos: contar a verdade possível (porque se foi verificar, através de várias fontes, se a notícia tem fundamento) e ajudar o leitor a formar uma opinião independente. É claro que, em especial na segunda metade do século XX, houve os pasquins partidários que fugiram completamente a esta norma deontológica, procurando arregimentar adeptos à custa da exploração das emoções e das mentiras.

Quando os interesses capitalistas se misturaram com os políticos para tirar bons proveitos e proventos desse casamento, alguns dos grandes jornais de referência, definidos pela sua isenção, foram comprados por certos donos do dinheiro e começaram a vender gato por lebre à sombra de uma imagem de honestidade já não existente. É fácil comprar consciências, tudo depende do preço! Também é verdade que, no lado oposto, quando não havia liberdade de expressão do pensamento, os jornais foram obrigados a publicar as verdades oficiais. Mas, porque toda agente sabia que era assim, aqueles que se não deixavam alienar ou seduzir pelos cantos das sereias do poder, ganharam a experiência de saber ler o contrário do que se afirmava.

 

Donde foram lançados os mísseis que atacaram o porto de Odessa? É tão estúpido que tenham vindo do lado da Rússia, que torna a notícia inverosímil. Aliás, que eu saiba, até agora, não houve qualquer confirmação oficial russa sobre tal assunto. Não me chega um curto texto numa rede social atribuído a uma funcionária de segunda categoria da diplomacia de Moscovo.

 

Mas, curioso é que o primeiro-ministro da Hungria, Victor Orbán, claro simpatizante de Putin, tenha declarado que a guerra não terá fim enquanto Joe Biden não abandonar o poder, nos EUA.

A afirmação pode parecer idiota, sem fundamento e semelhante a tantas outras que tanta gente lança para o ar. Contudo, se a analisarmos no contexto actual, percebemos que tem uma boa ponta de verdade ‒ pessoalmente continuo a admitir que a guerra terá o seu epílogo lá para Novembro do corrente ano, por causa dos efeitos económicos que vai provocar na Europa, em especial na do Norte, onde o frio é grande e a falta de meios de aquecimento doméstico determinará reivindicações sociais capazes de levar os governos a impor negociações de paz ou, no mínimo, de cessar-fogo e, nessa altura, não sei como ficará a popularidade de Zelensky ‒ dizia eu, tem uma boa ponta de verdade, porque, realmente esta guerra não é entre a Rússia e a Ucrânia, mas sim entre Moscovo e Washington, através do povo ucraniano.

Ora, se isto for verdade, temos três cenários possíveis na Ucrânia: Zelensky, entre os ucranianos afectados pela guerra e residentes em zonas rurais, deixa de ser o Presidente heróico e defensor da terra para passar a ser o tirano que impõe a guerra, os sacrifícios e a morte por uma causa que começa a deixar de ter interesse para quem tem fome e frio. Outro cenário, é que Zelenski continua a ser o heróico Presidente para os ucranianos bem instalados nas grandes cidades distantes da guerra, para quem o sacrifício é mínimo porque a fome e o frio não serão tão rigorosos. Por fim, o terceiro cenário configura-se junto dos ucranianos fugidos da sua terra, sem grandes possibilidades de integração nas sociedades de acolhimento, que passam a ver no Presidente o homem que à viva-força quer uma guerra que já não traz vantagens para ninguém a não ser para os oligarcas ucranianos que estão a ver aumentado o seu poder à custa da morte e sacrifício do povo anónimo.

 

Em face destes hipotéticos cenários o Presidente ucraniano só tem duas soluções: ou demite-se e foge e deixa livre o caminho para a Rússia colocar no poder um Presidente fantoche que lhe garante aquilo por que agora luta: a desmilitarização da Ucrânia, a desistência da entrada na OTAN e na União Europeia; ou pressiona a Administração dos EUA para encontrar uma saída imediata da guerra e, neste caso, duas alternativas sequenciais poderão delinear-se: Zelensky é um homem morto e é substituído por um verdadeiro ditador rodeado de uma auréola de democrata que vai afogar em sangue os ucranianos numa luta contra a Rússia, porque, para o Pentágono, o que está em causa é o desmantelamento da capacidade militar clássica da Rússia para que esta não possa estabelecer uma aliança com a China quando Pequim resolver impor os seus direitos no mar e nos territórios que lhe ficam adjacentes.

Daqui concluo que, ou muito me engano, ou os EUA, através da aplicação de estratégias indirectas, estão a preparar as melhores condições militares para o enfrentamento da China, que se encontra já na rampa de lançamento para ser a grande potência mundial do futuro. Se assim for, na minha opinião, a estratégia definida entre a Sala Oval, o Pentágono e a sede da CIA está errada, pois deveria de, ao invés de hostilizar a Rússia, atraí-la para os interesses ocidentais, dos quais está mais próxima, do que empurrá-la para os braços da China e das médias potências nascentes, tais como a Índia e, até, o Brasil.

Mas, como sou o primeiro a reconhecer, a estratégia é uma ciência cheia de elementos aleatórios que, podem parecer uma coisa e acabarem sendo o seu contrário.