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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

08.05.20

Centeno e a entrevista


Luís Alves de Fraga

 

Ontem, na RTP 3, Mário Centeno esteve à conversa com o especialista em assuntos económicos daquela estação. Uma entrevista sem agressões nem ataques inquisitoriais. Uma entrevista conduzida com o declarado desejo de deixar o ministro das Finanças expor os seus pontos de vista de modo a esclarecer os Portugueses.

 

Na sequência, ficaram claros alguns aspectos interessantes: o saldo orçamental previsível para o final deste ano vai ser deficitário na ordem dos 6% do PIB; tal não é visto, pelo ministro, como uma calamidade, se comparado com a vitória da gestão de 2019 (esta serviu, na opinião do governante, para provar que somos capazes de grandes recuperações financeiras); está garantido o apoio da União Europeia ‒ uma parte a fundo perdido e outra por empréstimo; não parece delinear-se, como opção para a crise económica, um tempo de austeridade, embora tenha de haver sacrifício. O ministro enfatizou a crise sanitária e não a crise económica.

 

Curiosamente, um comprovado deslize de Centeno foi quando quis comparar as soluções da União Europeia com as dos EUA. Aí falhou em absoluto!

Centeno sabe muito de finanças e de gestão dos dinheiros públicos, mas sabe pouco de História e, menos ainda, de Ciência Política.

Explico.

 

Os EUA são uma federação de Estados ‒ ou seja, cada um dos territórios integrantes perdeu totalmente a soberania, que foi cedida ao governo federal ‒ enquanto a União Europeia é, ainda, uma confederação de Estados ‒ ou seja, cada um dos integrantes mantém a soberania mais ou menos intacta, por isso, tem Ministério de Negócios Estrangeiros e Ministério da Defesa.

Esta aparente semelhança faz toda a diferença, pois na nossa confederação ainda prevalece como valor maior o nacional, ou seja, em situação de perigo, de qualquer natureza, o governo do Estado confederado chama a si toda a autoridade para tomar decisões que dependem da sua Constituição Política e não da do governo da confederação, que pode ou não existir.

Os EUA deixaram de ser uma confederação com a vitória dos Estados do Norte sobre os Estados do Sul, aquando da guerra civil. Assim, pode falar-se de uma consciência nacional americana enquanto que na União Europeia não há indicadores de nacionalismo europeu.

Mário Centeno meteu água na comparação, porque esqueceu que a independência dos Estados federados americanos só gere uma autonomia regional e os Estados europeus têm soberania nacional.

 

É nesta diferença que reside a dificuldade de entendimento na Europa quando se pretende tomar decisões a vinte e sete: há falta de identidade comunal, por excesso de identidade nacional.

Os burocratas europeus, nomeadamente Centeno, gostariam de já ter ultrapassado este empecilho ‒ daí que o lapso de ontem tenha saltado tão espontâneo ‒ mas, na verdade, não se conseguem extirpar centenas de anos de história, nos quais prevaleceu a luta pela soberania nacional, para cairmos numa identidade jamais existente.

Como tenho batalhado desde os anos 80 do século passado, o mais que se devia construir na Europa era um mercado comum, pesem embora, os inconvenientes que agora se sentiriam, nesta crise pandémica.

 

Conclusão a tirar do que deixei dito: Centeno não pode ‒ não deve ‒ levar tão a peito a União Europeia, pois corre o risco de esquecer os interesses nacionais, que são os prevalecentes neste arranjo político no continente.

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