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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

13.02.20

Celibatário


Luís Alves de Fraga

 

Há muitos anos na igreja dos Anjos, em Lisboa, havia um sacerdote casado. Era um antigo pastor evangélico convertido ao catolicismo e, por já ter mulher e filhos e experiência de pregador, foi autorizado a frequentar o seminário de Moscavide, recebeu ordens maiores e passou a exercer a sua actividade na igreja de uma freguesia com numerosos habitantes.

 

Aos domingos celebrava missa pelo meio-dia. O templo enchia-se para escutar a prédica deste clérigo. E a razão era muito simples: ele, ao explicar o Evangelho, usava exemplos do dia-a-dia da sua vida familiar, aproximando-se muito, mas mesmo muito, da realidade dos que o ouviam. Falava das relações dos casais, da educação dos filhos, de questões íntimas de homens e mulheres. Na igreja não se ouvia um murmúrio, as palavras eram bebidas com intensidade. Os crentes sabiam que ele era um homem exactamente igual a qualquer um dos paroquianos e, quando expunha uma ideia, não era fruto de estudos teóricos, pois tudo passava pelo crivo da sua experiência humana e cívica.

 

Pergunto-me, qual a razão determinante para o Vaticano ‒ que tem conhecimento destas e de muitas outras ocorrências iguais ou semelhantes (homens viúvos, com filhos e netos, que são ordenados padres) ‒ continuar a insistir no celibato dos sacerdotes?

Não é o celibato que lhes dá mais capacidades para se entregarem à comunidade católica; ele será, no máximo, uma prova de resistência ‒ quando cumprido à risca ‒ a tentações humanas e comuns a todos os animais: o desejo de procriar. Um desejo divino, segundo o traçado das Escrituras integrantes do Velho Testamento.

 

Tendo em conta que o Papa é, no mundo ocidental, o único soberano dotado de poder absoluto, estranho o facto de Francisco ‒ aparentemente escolhido para romper algumas das vestes tradicionais da Cúria ‒ não ter agora quebrado essa obrigação que, tanto quanto sei e é dito por quem estuda a fundo a História da Igreja Católica, não foi instituída por Jesus nem mesmo pelos seus apóstolos, alguns deles casados.

É tempo de humanizar a Igreja para a colocar muito mais próxima dos crentes e dos problemas levantados pela modernidade de um novo milénio.