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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

29.03.20

Cavernização


Luís Alves de Fraga

 

Segundo tudo nos indica, o Homem no seu estádio mais atrasado, primitivo, terá usado as cavernas para se refugiar do frio, da chuva, do sol e de ataques indesejados. Por lá terá passado tanto tempo, que nos deixou a expressão da sua arte, da sua necessidade de comunicar, nas chamadas pinturas rupestres.

Isto foi na Idade das Cavernas. De lá até agora a humanidade tornou-se outra tão diferente, que já não é capaz de imaginar esses tempos de impotência perante a Natureza.

 

Mas, por muito estranho que pareça, de uma outra maneira, estamos agora, neste exacto momento, a cavernizarmo-nos, ou seja, para nos defendermos de uma ameaça desenvolvida pela Natureza, temos de nos confinar às nossas cavernas, evitando o convívio directo com os outros, porque os outros podem ser os nossos inimigos, os inimigos da nossa sobrevivência.

 

Mas será só agora, neste momento mais tormentoso? Não, meus amigos!

Se os cientistas não descobrirem a vacina, o antídoto, que inibe a acção do coronavírus no ser humano, a ameaça vai persistir e, pela certa, matará os mais velhos e menos resistentes na sua próxima investida, se deixarmos de estar na nossa caverna.

O imediato pós-covid 19, aquele que virá lá para Junho, Julho, Agosto, será igual a este, mas estaremos todos tão cansados, tão fartos de viver primitivamente, que iremos enfrentar a selva civilizada das nossas ruas, das nossas lojas, dos nossos cinemas, dos nossos centros comerciais, das nossas praias, dos nossos teatros, das nossas esplanadas, das nossas viagens, enfim, do nosso consumismo, que nos moldou para não sermos, de novo, Homens das cavernas e, então, só os mais fortes ou já imunizados sobreviverão à nova doença chamada covid 19. E, nessa altura, será já banal que os mais fragilizados morram. Afinal, sempre foi assim! Sempre prevaleceu a lei do mais forte!

 

Mas a lei do mais forte é discutível.

Mais forte em quê? Na saúde ou na riqueza?

É que, se se inventar o antídoto para este veneno, que nos deixa, agora, tão solidários e tão assustados, ele ou é gratuito, beneficiando quantos quiserem viver, ou será pago e só quem tiver dinheiro terá garantida a possibilidade de se não infectar. Neste caso, prevalecerá a lei do mais forte em riqueza, em fortuna. Lá se vai a solidariedade de agora! Vai-se, porque é ditada pelo medo, o mesmo medo do Homem das cavernas! Um medo egoísta, mas, aparentemente, solidário. Somente solidário, porque não pode, ainda, dar largas a uma outra forma de egoísmo, ditada pela vontade de consumir, usufruir, possuir.

 

Afinal, depois desta cavernização, com algumas alterações, voltaremos ao nosso habitual, um habitual feito de lugares-comuns onde se morre e se vê morrer com uma indiferença soberana, desde que a morte não possa aumentar as audiências televisivas ou as sondagens políticas.