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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

27.09.21

Câmaras, partidos políticos e mudança


Luís Alves de Fraga

 

Pronto, acabaram, na prática, as contagens de votos das eleições autárquicas de ontem.

Em alguns casos ‒ quase todos ‒ foram lutas partidárias nas quais os eleitores alinharam, noutros foram escolhas de personagens que parecem vir a beneficiar as populações. Os analistas fazem análises, os líderes partidários tiram conclusões. Toda a gente olha para o passado, para outras eleições e baseia os seus raciocínios na comparação entre o agora e o ontem, seja este mais recente ou mais longínquo. Estou a exagerar? Vamos ver.

 

Reparem na forma como se analisam as perdas de municípios onde governou o PCP e as daqueles onde tradicionalmente estiveram outros agentes de diferentes quadrantes políticos durante largos anos (Lisboa pode servir de exemplo).

A observação é feita, tomando como miradouro os partidos, fazendo-nos crer que tudo gira à volta deles. Querem que acreditemos na permanência de uma ideia ao longo do tempo. Ora, nada pode ser mais falso!

O PPD/PSD de Rui Rio nada tem a ver com o de Sá Carneiro nos anos imediatamente a seguir a 1974 ou ao início da década de 1980. O PSD de Cavaco Silva, Primeiro Ministro, não é o PSD de Passos Coelho nem o do actual líder. E o mesmo acontece com o CDS de Freitas do Amaral e o do “Xicão”. O PS de António Costa não é o de António José Seguro e, menos ainda, o de Mário Soares, em 1975. O PCP, no seu imobilismo tradicional, não é o partido de Álvaro Cunhal e do proletariado, porque Jerónimo de Sousa, e outros antes dele, deixaram de falar de vanguardas revolucionárias e outros princípios marxistas-leninistas, invoca os trabalhadores, indo do operário ao intelectual. O BE não é o somatório da UDP com quase todos os pequenos partidos de extrema-esquerda.

O que cada partido defende hoje, no plano ideológico e prático, não é igual àquilo que defendeu no passado distante e, mesmo, no passado recente. Assim, tirar conclusões com base nas posturas de cada partido, quanto a mim, parece-me um tremendo erro.

 

Mas, acresce que os eleitores do presente já não são os do passado, pelo menos na sua maioria. Assim, longe vai o tempo em que o Alentejo era povoado de trabalhadores agrícolas, votantes incondicionais no PCP, tal como a gente do Norte era apoiante do PSD e do CDS. Os bastiões de ontem são um mito de hoje!

Agora, a grande fatia dos eleitores está na casa etária dos 40 aos 50 anos e de ditadura, de fascismo e prisão política já só sabem o que vagamente ouvem aos familiares mais velhos, quando ouvem.

Se é verdade que um Francisco Louçã tem a clara certeza do que acabei de expor, já nada me garante que um José Miguel Júdice, um Luís Marques Mendes e outros que proliferam nas televisões a dar “opiniões” tenham plena consciência destas mudanças, porque se fixaram em estereótipos do passado e jogam com eles, agora, no seu argumentário enganado e enganador.

Os cidadãos de 40 e 50 anos (para não me fixar nos mais jovens) vivem o tempo do capitalismo global, do consumismo, de uma abastança relativa, mas abastança, comparada com a dos tempos das ceifeiras no Alentejo e dos comboios “rápidos” que levavam uma noite inteira a chegar ao Porto e quase doze ou mais horas a chegar a Bragança. Há um Portugal de ontem e um outro de agora!

Deste modo, cuidado com o que ouvem dito pelos comentadores… Há que saber quem são, que preparação analítica têm e que tipo de mensagem querem passar para quem os ouve. Há que saber do que é que cada líder partidário fala, quando perora, quando invoca o passado e quando fala do futuro. O futuro de quem está fincado nos anos de 1990 não é o futuro de quem olha o presente com os olhos e o entendimento deste começo de século (até porque esta centúria, quando estiver próxima do fim, nada se parecerá com os anos de agora!).

 

Não me lanço em adivinhações, todavia, o mais que posso fazer é alertar para os erros de quem só sabe entender o “hoje” à luz do “ontem”, porque o “amanhã” será completamente diferente de qualquer das anteriores realidades.