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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

21.02.18

As minhas injustiças


Luís Alves de Fraga

 

Nasci em Lisboa, em casa, no andar de um prédio construído, talvez, no final do século XIX ou começo do século XX. Era uma casa que não obedecia a nenhum dos actuais critérios de construção, mas tinha tudo o que fazia falta para uma família, composta por quatro pessoas, nela viver: casa-de-banho, cozinha, sala de jantar e quatro outras divisões, que serviam de quartos e sala de visitas.

Foi lá que nasci e cresci e da janela habituei-me a ver Lisboa, pois a vista era soberba.

 

Nunca me dei conta de ser grande ou pequena essa casa onde vivi até à idade dos vinte e quatro anos. Era a casa dos meus Pais, a minha casa. Tudo isso bastou-me. Mas, a verdade, é que há coisa de vinte ou trinta anos atrás, dei por mim a pensar nas reais dimensões dessa casa da qual tenho saudades. Pensei e conclui: era, realmente pequena. As divisões, ainda que espaçosas para a altura, tinham áreas diminutas se comparadas com as casas que vim a conhecer ao longo da minha vida. Todavia, para mim, na minha memória, a casa era grande, bastante grande e confortável. O meu sentido de justiça esteve, durante muitos anos, embotado pela minha consciência infantil, aquela que eu tinha quando tudo era imenso, porque medido à escala do meu próprio tamanho de criança.

 

Mas a injustiça continuou.

Conclui o curso da Academia Militar e fui promovido a alferes, a tenente, a capitão, a major e, porque, para mim, o meu Pai tinha uma dimensão enorme, igual à da casa onde nasci, nunca estabeleci a relação entre o facto de ele ser somente 1.º sargento reformado e eu auferir um vencimento bastante superior ao seu. Ele, para mim, na minha imaginação e mente, sempre foi mais capaz financeiramente do que eu! Nunca tive por hábito pedir-lhe dinheiro, emprestado ou não, mas se fosse necessário teria pedido, porque, para mim, ele ganhava "mais" do que eu! Ele era, financeiramente, "mais poderoso" do que eu!

 

Como fui injusto! Injusto, porque tive, durante demasiado tempo, uma visão infantil da casa onde nasci e do meu Pai. Injusto, porque tudo o que me foi familiar na infância, era grande, demasiado grande, quando me comparava com esse "tudo"!

 

Agora, que os anos passaram, pergunto-me se esta distorção só me afectou a mim ou é comum a mais gente?

Às vezes, somos injustos sem nos darmos conta!